Em plena semana da Páscoa...

Teste compara benefícios de chocolates ao leite e meio amargo
 
IARA BIDERMAN
 FOLHA DE SÃO PAULO
 
O chocolate tem sido um dos alimentos funcionais preferidos pelas pesquisas.
Poderes contra doenças cardíacas, envelhecimento precoce e até sobrepreso são atribuídos ao produto, principalmente na sua formulação amarga.
A razão apontada são as substâncias antioxidantes presentes no cacau.
A Folha e a Unicamp decidiram medir a quantidade dessas substâncias, os polifenois, em barras das três marcas mais vendidas do mercado.
Foram comparadas as composições dos tipos "ao leite" e "meio amargo" (porcentagem de cacau entre 30% e 50%) dessas marcas.
  Preferidos dos nutricionistas e valorizados em estudos, os chocolates mais escuros são tão calóricos e gordurosos quanto os com leite.
A diferença está mesmo nos polifenois: sua quantidade dobra nas versões meio amargas.

 Das marcas testadas, o meio amargo da Nestlé foi o que apresentou o maior teor de antioxidantes por 100 g do produto (2,4 g de polifenois).
A menor quantidade da substância foi encontrada no Lacta ao leite, 0,98 g.
  O produto meio amargo da Lacta, que ficou em terceiro lugar no quesito antioxidante, é, entretanto, o menos calórico de todos.
Mesmo assim, não é pouca coisa: são 504 calorias por 100 g. O fato de o chocolate ter o gosto mais amargo sugere mais antioxidantes.
Mas isso não é determinado diretamente pelo teor de cacau. "Na porcentagem de cacau entram tanto a massa quanto a manteiga de cacau. Esta última não tem nada de polifenois", diz a engenheira de alimentos Priscilla Efraim, da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp, onde foi feito o teste.
O amargor também não significa que o produto tem menos açúcar: em todos os chocolates testados, o açúcar é o ingrediente em maior proporção na fórmula--maior do que a do cacau, inclusive. "Nessa época já se come muito chocolate, os benefícios não podem ser desculpa para exageros", diz Lara Natacci, nutricionista do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas de São Paulo.
 
PROPAGANDA
 
Para a endocrinologista Rosana Radominski, do Departamento de Obesidade da Sbem (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia), a indústria estimula a divulgação da ideia de que comer chocolate todo dia é bom para a saúde.
  "Não há prova disso. O que podemos dizer é que a pessoa pode comer uma coisa gostosa que não vai fazer mal se for consumida em pequenas quantidades", diz a médica.
A maioria das pesquisas indicando benefícios do chocolate utilizou extratos com alta concentração de polifenois, segundo Efraim.
Para obter esses efeitos com as marcas testadas, por exemplo, a pessoa precisaria comer quase cem gramas do tipo meio amargo por dia, avalia a professora. "Do ponto de vista do consumo de antioxidantes, o meio amargo é melhor.
Mas não vale apostar no chocolate como um superalimento. Não é tudo isso. Mas é gostoso", diz o nutrólogo Daniel Magnoni, do HCor (Hospital do Coração) de São Paulo.
  O consumo "controlado" das pesquisas dificilmente é replicado na vida real. Uma sugestão da nutricionista Lara Natacci para quem come o doce habitualmente é trocar a versão ao leite pela meio amarga. "O teste mostrou uma diferença significativa na quantidade de antioxidantes, mesmo em produtos populares e facilmente encontrados no mercado", diz.
Os resultados sobre a concentração de polifenois são coerentes com o que se espera de um chocolate mais amargo, na opinião de Carlos Thadeu de Oliveira, gerente do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor). "O que não dá para entender é por que poucos fabricantes colocam a porcentagem de cacau na embalagem dos produtos vendidos no Brasil", diz ele.
Dos produtos testados, só o amargo da Lacta tem essa informação. Segundo Oliveira, o dado é comum nos chocolates importados e em "edições limitadas" de produtos gourmet.
 "Quanto mais barato o produto, menor o número de informações oferecido ao consumidor", diz.

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