Estatística macabra

Ruy Castro
Folha de São Paulo

RIO DE JANEIRO - Estudo recente da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, é de alarmar qualquer um.
 Seu autor, o pesquisador David Spiegelhalter, afirma que certos hábitos reduzem a vida de um cidadão em até meia hora.
Por exemplo: fumar dois cigarros, tomar uma ou mais doses de bebida alcoólica, estar 5 kg acima do peso, comer um hambúrguer ou assistir à TV por duas horas seguidas.
 Cada uma dessas imprevidências pode limar 30 minutos da nossa expectativa de vida.
Assustei-me.
 Durante 40 anos em que andei em más companhias, fumei pelo menos um maço por dia, ou 14.600 maços. Multiplicados por 20, que são o conteúdo de um maço, terei acendido 292 mil cigarros. Se abatermos meia hora de vida por cada dois dos 292 mil, concluo que morri --bem feito para mim-- e esta coluna está sendo escrita por um ectoplasma.
O mesmo quanto à bebida. Parei com ela há 25 anos, mas o que bebi nos 20 anteriores faz com que, pelos cálculos do dr. Spiegelhalter, eu já esteja devendo várias encarnações.
Sobrepeso? Nem me fale. Devo ter perdido até hoje mais de 500 kg, mas não só os recuperei um a um como ganhei um excedente crônico.
E nunca fui de hambúrgueres, mas isso não me alivia a consciência, pesada por 25 mil bolas de sorvetes --média de mil por ano-- tomadas também em 25 anos.
E não ligo para TV, exceto quando há gente de vermelho e preto correndo atrás da bola, o que acontece até duas vezes por semana.
Enfim, tirando um excesso pelo outro e subtraindo 30 minutos de vida para cada categoria em que exorbitei, deduzo que já fui há muito para o São João Batista.
Minha preocupação agora é que, convidado a participar mensalmente de um programa de esportes na TV, eu vá contribuir para a estatística macabra.
O programa dura duas horas --meia hora de vida a menos para o querido telespectador.

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