Wagner Moura e sua noite inesquecível cantando Legião





Wagner Moura participou do karaokê mais improvável e emocionante de sua vida. O sortudo ator cantou o fino do repertório da Legião Urbana, apoiado por Dado-Villalobos, Marcelo Bonfá e pelas vozes de seis mil pessoas que lotaram o Espaço das Américas, em São Paulo, na terça-feira, na primeira das duas noites do tributo ao grupo de Brasília, em seu aniversário de 30 anos, promovido pela MTV.



Interpretando com naturalidade e coragem o papel de fã assumido, ele quebrou a natural desconfiança em torno de sua presença à frente desse projeto – talvez o último momento em que Dado e Bonfá tocam o repertório de sua ex-banda, desfeita em 1996 – com uma performance de rara emoção, capaz de disfarçar suas claras limitações como cantor. O show de pouco mais de duas horas de duração – que deve virar um DVD – teve também as participações de Fernando Catatau, Bi Ribeiro e o guitarrista britânico Andy Gill, do cultuado grupo Gang of Four, uma das maiores influências da Legião.



Até o início do show, às 22h, Wagner Moura era a incógnita da noite, o nome previamente avaliado (e muitas vezes condenado) pelos fóruns e debates nas redes sociais mantidos pelos fãs da Legião Urbana desde que foi anunciado como o nome que ousaria ocupar o lugar sagrado de Renato Russo à frente da banda. O início foi, de fato, de um certo estranhamento, como se aquela fosse uma cena deletada de “O homem do futuro”, o filme no qual o personagem de Wagner canta “Tempo perdido” . Dez minutos e outra música depois (“Fábrica”), incluindo também a primeira das inúmeras falhas do microfone ao longo da noite, o cantor da banda Sua Mãe, de Salvador, com seus pulos, danças e contagiante alegria, já tinha convencido o público de que não faria feio na história e que estava ali para se divertir tanto quanto ele. “Essa é a noite mais emocionante da minha vida”, disse Wagner, se levantando do chão após o fim da segunda música e agradecendo o volumoso backing vocal em tom de aprovação. Em cima dele, no teto do palco, eram projetadas animações que criavam um efeito original para a plateia e também para as câmeras que filmavam a apresentação.



Passada a primeira descarga de adrenalina, o ator/cantor chamou ao palco o primeiro convidado da noite, o cantor, compositor e guitar-hero Fernando Catatau (Cidadão Instigado), que se juntou à banda formada por Rodrigo Favaro (baixo), Caio Costa (teclados) e Gabriel Carvalho (violão, do Sua Mãe) para interpretar “Andrea Doria”. O solo final de Catatau parece ter sido a senha para que Wagner se soltasse de vez. Como se fazendo jus à letra da canção seguinte, “Quases em querer” (“Sou tão tranquilo e tão contente”), ele continuou a dançar, sorridente, alguns segundos depois que a banda parou de tocar.



“Quando o sol bater na janela do seu quarto”, do disco “Quatro estações”, cantada com plena convição por Wagner e o público, foi seguida por um módulo lado B da Legião, com “A via láctea” e “Esperando por mim”, do disco “A tempestade”. Elas nunca haviam sido tocadas ao vivo, o que explicou o breve sossego da plateia. Mas a sequência foi logo quebrada com uma arrepiante versão de “Índios”, o belo tema de tons ecológicos de “Dois”. Numa área próxima ao palco, o rapper Emicida, boné virado para trás, cantava junto, a letra na ponta da língua.



No palco, Wagner Moura pediu para sair e foi substituído nos vocais por Bonfá e Dado, respectivamente em “Teatro dos vampiros” e “Geração Coca-Cola”, esta em interessante versão acústica, com a participação do gaitista Clayton Martin (também do Cidadão Instigado). Dado chamou então ao palco Bi Ribeiro, dos Paralamas, e seu herói do pós-punk, Andy Gill (“A inspiração para que eu me tornasse um guitarrista”, disse). Depois, puxou, com segurança, os vocais de “Damaged goods”, do Gang of Four, seguida por “Ainda é cedo”, que trouxe Wagner de volta ao palco. Na guitarra, Gill emocionou ao inserir um trecho de “Love will tear us apart”, do Joy Division, outro ícone do rock britânico dos anos 80.



Depois de cantar “1965 (Duas tribos)”, Wagner foi saudado aos gritos de “É capitão” pela plateia, que brilhou também após o encerramento do show, cantando sozinha uma versão quase inteira de “Será”, até que a banda voltasse com “Teorema”. O bis teve também “Pais e filhos” (com trechos de “Stand by me”, de Ben E. King”) e, por fim, a tão esperada “Será”.



Nos camarins, depois do show, Wagner afirmava que seu desempenho no show do dia seguinte seria “certamente melhor”, enquanto Gill se declarava impressionado com as paixões ainda despertadas pela Legião.

- É impressionante ver uma adoração dessas, entre jovens e mais velhos, tanto tempo depois do fim da banda – dizia ele - Sabia que tínhamos sido umainfluência para a Legião, através do depoimento de amigos, no final dos anos 80, mas eram tempos diferentes, sem internet, sem YouTube, estávamos a dez mil quilômetros de distância, não havia como medir o que representava esse fenômeno. Só agora posso entendê-lo melhor. Me sinto honrado em ter, de alguma forma, contribuído para isso.







Comentários

Douglas Luccena disse…
Meu o cara tem peito, e não pediu pra sair.
Fez e participou de algo épico, só nnao gostei de terem cortado a multidão que em um intervalo iniciou modestamente um coro com o faroeste, e este foi cortado pelo dado, isso foi feio, onde se consegue que todos desconhecidos se unam em coro para saldar o maior(em todos os sentido)sucesso da banda.Fora isso foi show

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