Dalton Trevisan vence o Prêmio Camões


Do Diário do Grande ABC

Dalton Trevisan nunca foi dado a aparições públicas. Para falar com ele, é preciso deixar recado na Livraria do Chaim, que frequenta em Curitiba, e, querendo, Dalton responde por fax. Ninguém será surpreendido se ele não for receber o Prêmio Camões, em Portugal.

O curitibano é o 10.º brasileiro a ganhar o Camões - o primeiro foi João Cabral de Melo Neto, em 1990, e o último, Ferreira Gullar, em 2010. Falta apenas mais um para o Brasil se igualar a Portugal nesta que é a principal premiação a um autor de língua portuguesa pelo conjunto da obra.
O anúncio do vencedor desta 24.ª edição foi feito ontem, em Lisboa. Segundo o crítico literário Silviano Santiago, presidente do júri, a escolha foi unânime. "Em primeiro lugar, pela contribuição dele à arte do conto. Não há dúvida de que temos uma belíssima tradição do conto no Brasil. E ele conseguiu uma voz muito pessoal."
Para Santiago, o mérito de Trevisan vem da forma como ele trabalha a língua. "É um trabalho em prosa muito difícil, semelhante ao que se tem quando se faz um soneto, um poema curto. No caso de Dalton, ele faz da dificuldade sua própria poética. A ponto de seus últimos contos serem praticamente poemas, haicais, tal a concisão, a secura, a necessidade de buscar o essencial."
Entre os pontos em discussão na reunião esteve o fato de Trevisan não procurar a fama. "É um homem de 86 que dedicou sua vida inteira a fazer literatura longe de tudo. A gente discutiu que, de certa forma, é a mídia que faz os escritores. Chegou o momento de ver quem escreve bem e quem está pondo para a frente a arte literária."
Trevisan acumula bons e frescos prêmios. Seu penúltimo título, 'Desgracida', ficou em primeiro lugar na categoria contos do Jabuti de 2011, premiação que já havia recebido em 1960. Dalton é editado pela Record, que publicou, em 2011, 'O Anão e a Ninfeta'. Não há previsão de lançamento para o ano que vem.

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