“Tudo me inspira: sobretudo o nada” entrevista de Affonso Romano de Sant'Anna


Recebi e repasso do amigo , professor e intelectual Roberto Kahlmeyer-Mertens(Niterói):

Concedida ao escritor e acadêmico Carlos Rosa Moreira, a presente entrevista do literatoAffonso  Romano de Sant’Anna foi originalmente publicada no Literato – O Jornal das Letras de Niterói. Tendo cumprido seu papel de figurar impresso naquele veículo, o texto de entrevista é gentilmente cedido por Carlos Rosa para divulgação virtual no blog: Literatura-Vivência.

Carlos Rosa Moreira: Durante seis anos você dirigiu a Bibiblioteca Nacional e fez, entre outros, aquele projeto admirável de criação e incrementador de bibliotecas por todo o Brasil.Se fosse agora, que projeto gostaria de fazer?
Affonso Romano de Sant'Anna: No livro Ler o mundo (Ed.Global) fiz uma síntese dos projetos realizados. Falar do que falta seria escrever outro livro.

CRM: De que sente falta na Literatura Nacional?
ARS: De críticos (não jornalistas, que façam reportagens). Que os cadernos culturais abram espaço para os brasileiros, que não sejamos meros importadores de best sellers estangeiros.

CRM: Pelo que se vê no atual meio cultural brasileiro, você é um transgressor?
ARS: A palavra “transgressor”, que entrou na moda, já me cansou. Já é possivel fazer um Museu da Transgressão.

CRM: É possivel ser escritor sem se expor?
ARS: O escritor se expõe, queira ou não.

CRM: Qual a responsabilidade de um intelectual em seu meio?
ARS: Cada um sabe de si. Eu sou uma pessoa doente de história e do presente.

CRM: Duchamp se tivesse nascido no Brasil, faria aquele sucesso todo?
ARS: Nem pensar. Ele deu o golpe certo, percebeu que tinha que ir para os EUA terra do kitsch e da novidade

(Nota: Leiam O enigma vazio e Desconstruir Duchamp, livros nos quais ARS analisa Marcel Duchamp, o homem que influenciou a arte do sec.XX ).

CRM: Se estivesse na mesma situação do “Gil”personagem interpretado por Owen Wilson no “Meia noite em Paris”do Wood Allen, com que turma de escritores gostaria de encontrar?
ARS: Em geral, os escritores mitológicos são uma decepção na intimidade, preferia continuar a lê-los, apenas.

CRM: O que gostaria de reler, pelo prazer simples de ler?
ARS: Qualquer coisa. As leituras aleatórias são fecundantes. Dos grafitos nos muros às revistas de consultório.

CRM: Outras artes inspiram você, abrem caminho para a prosa ou a poesia?
ARS: Careço de arte como de uma vitamina imprescindível. Tudo me “ inspira”, sobretudo o “nada”.

CRM: Algum autor influenciou você?
ARS: Todos, inclusive os ruins, que indicam o caminho a não seguir.

CRM: Em que lugar gostaria de recitar uma poesia sua (se é que falta esse lugar)?
ARS: Já falei poesia em grutas, em teatro grego, na cama, no palco, na sala de aula, em igreja, bibliotecas, jardins, deserto, praia. Atualmente falo para dentro.

CRM: Que novidade gostaria de perceber em nossa cultura, Affonso?
ARS: Que a cultura fizesse parte do cardápio trivial do brasileiros.

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