Simples assim...

Walnize Carvalho

                 Gosto do trivial. Desde “o feijão com arroz” ao jeito de escrever.
                Tenho o olhar sobre o cotidiano nas coisas e nas pessoas simples , pois elas  aguçam meu paladar e me alimentam com sua beleza natural. No caso dos humanos, suas histórias de vida são vitaminas  que me revigoram e me estimulam.  
               A escritora gaúcha Martha Medeiros,em uma de suas crônicas, enumerou fatos do cotidiano, que aos olhos dos outros dariam inspiração a qualquer cronista e falava: “Recebemos uma overdose de informações: crise econômica, sequestros de avião, conflitos religiosos, homens bomba, casamentos e separações de celebridades, corruptos no poder, ameaças ambientais ao planeta, tendência da moda. Nada disso significa que os acontecimentos sejam surpreendentes” e finaliza: “As novidades são como mariposas. Nascem e morrem no mesmo dia. Por isso, é que persevero no trivial.”
            Comungo com a sua ideia e cada vez mais me convenço que observando  coisas simples deparamos com as que nos prendem os olhos e se transformam em agradável narrativa.
            E é justamente  no mote da trivialidade e da cumplicidade  dos que me leem, que ainda passo a cada sábado aqui no blog com um texto meu.
            Lendo outros cronistas observo que há os que gostam de escrever sobre relacionamentos amorosos,ou de  laços familiares,  ou de  personagens de convivência direta: seu analista, seu cabeleireiro, seus amigos do boteco, seu personal trainer, seus gatos e eu... sobre minhas netas!
            Crônica sim, crônica não, lá estão elas preenchendo meus textos. Mas se são elas que adornam meu cotidiano com suas tiradas, sacadas e dizeres por que não reproduzir e dividir essas vivências neste espaço democrático?
            Pois é que dia desses, me chega da escola a neta Valentina (a de três anos) com a lição na ponta da língua,ou melhor, afiada nos dentes.
            Mesmo sem fome pediu um lanche. Comeu  com pressa e exigiu a escova de dentes para por em prática o que aprendera.
            Fazendo caras e bocas demonstrou o ato de escovação com as referidas denominações: rodinha, trenzinho e vassourinha.
            E eu ali exercitando o meu direito de avó coruja prestava a maior atenção.
            Refleti no quanto nos robotizamos na correria diária. Atropelamos pequenos gestos de espontaneidade. Deixamos de corresponder a um aceno, a um bom dia,a um sorriso. Não prestamos atenção até no que a natureza nos sinaliza: uma flor que nasce, o por do sol, gotículas de chuva na vidraça... Tudo tão simples e tão belo!
            Toc! Toc!
            Parei  de escrever e dirigi-me à porta. Fui surpreendida pela visita de Valentina que falava:- É justo isso,vovó ! Hoje não vou assistir "Carrossel".Na tv tem um monte de mascarados fazendo bagunça nas ruas !...   
            Coloquei-a no colo e de forma  simples expliquei-lhe o que estava acontecendo... 
           


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