Olímpicas 7: O fracasso de Fabiana Murer e um gol de goleiro em parceria com o vento- Por Mauro César Pereira


O vento ajuda e atrapalha no futebol. Quando ele é muito forte, pode mudar a direção da bola, para o bem ou para o mal. Na Libertadores deste ano, o Internacional perdeu para o Juan Aurichd (0 a 1) em Chiclayo, no Peru, e reclamou ao se deparar diante de uma espécie de minuano na cidade andina. Na vitória (4 a 1 ) do Atlético sobre o Sport, o técnico Cuca destacou a mudança de campo após o intervalo, que permitiu ao Galo jogar o segundo tempo "a favor do vento" na Ilha do Retiro.



Mas há outra ilha famosa por sua cancha e o ar em movimento que por lá sopra. É a Ilha do Governador, no Rio de Janeiro, onde fica o campo da Portuguesa, o "estádio dos ventos uivantes". No dia 19 de setembro de 1970, O Flamengo vencia o Madureira por 1 a 0, gol de Zanata, lá mesmo no Luso Brasileiro. Até que Ubirajara Alcântara cobrou um tiro de meta e, com enorme ajuda do fenômeno, colocou a bola nas redes do time conhecido como o "tricolor suburbano".

Assim, ele se transformou no primeiro goleiro da história do clube a marcar um gol — Zé Carlos (1 tento) e Bruno (4) foram os outros arqueiros-artilheiros rubro-negros. No ano seguinte, Ubirajara seria eleito "O negro mais bonito do Brasil" pelo júri da "Discoteca do Chacrinha". Até hoje o camisa 1 titular da meta flamenguista em 111 pelejas é lembrado pelos dois feitos, sendo que dentro de campo nenhuma defesa marcou mais do que o gol em parceria com a natureza.

O que eu não sabia até hoje é que no salto com vara, a cerca de cinco metros de altura a ventania pode atrapalhar um atleta a ponto de fazê-lo desistir. E antes que alguém interprete a frase acima como ironia, faço questão de deixar claro que não é o caso. Não sou especialista em atletismo, ainda mais na modalidade de Fabiana Murer, por isso fiquei surpreso ao vê-la desistir do salto para, segundo suas próprias palavras, preservar a integridade física.

Eram 12 vagas na final, a brasileira ficou em 14º lugar. Para uma campeã mundial, foi um fiasco. Se fosse adiante e disputasse a medalha, brigasse por ela, ok. Mas sair tão cedo assim depois de tamanha expectativa, treinamentos, concentração? Todo respeito à atleta e ao seu trabalho e dedicação, mas não há como entender o que se passou no estádio olímpico de Londres de outra forma. Se aquilo não é um fracasso, então não há fracassos no esporte.


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