Tombamento Abstrato

Walnize Carvalho

Já é do conhecimento de alguns (talvez poucos não estejam informados) da existência de Tombamento de Bens Imateriais.
Vários tópicos caracterizam este Tombamento, dos quais enumero alguns: modos enraizados no cotidiano das comunidades; rituais e festas que marcam a vivência coletiva do trabalho, da religiosidade, do entretenimento e de outras práticas da vida social; bem como lugares: mercados, feiras, santuários, praças...”
O Brasil possui manifestações culturais registradas como Patrimônio Imaterial. Destaco algumas delas: Jongo no Sudeste, Roda de Capoeira, Tambor de Crioula do Maranhão, Círio de Nazaré, Baianas de Acarajé, Frevo, Feira de Caruaru, Toque dos Sinos de Minas Gerais... em nosso Município destaque para: comidas típicas, literatura, artesanato e folclore...
Li, recentemente, que “ a prefeitura do Rio de Janeiro junto ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional ( IPHAN) têm tombado dúzias de eventos na cidade como por exemplo: o partido alto,a Banda de Ipanema...como bens imateriais.
O jornalista carioca e cronista Joaquim Ferreira dos Santos, em recente crônica, intitulada: “Tombe-se” fez a lista de suas prioridades para a eternidade imaterial. Pincei algumas: O pôr do sol visto do Arpoador; a prancheta de Joel Santana; o papo de botequim, a estupidamente gelada, “aquela que matou o guarda” e muito mais...
Em minhas andanças pela nossa cidade, aliadas ao meu olhar sobre o cotidiano, ouso fazer (no mesmo espírito de leveza e humor) uma relação do que considero bens imateriais específicos de nossa Campos -uma espécie de tombamento abstrato.Começo então,assim:Figuras folclóricas de nossas ruas, como os populares: “Rosinha”(seus acenos e beijinhos) e “Jaburi”(com a camisa inseparável de seu time); figuras marcantesdoBoulevard :vendedores ambulantes e seus pregões, leitores acotovelados em bancas de jornais, ciganas, pregadores religiosos, pessoas sentadas à volta do Pelourinho do Calçadão.Seguindo minhas observações: gaiolas nas portas de oficinas de carros e bicicletas; sesta de operários em sombras das árvores das calçadas; as carrocinhas de pipocas e águas de coco nas esquinas; a cadeira de engraxate na calçada da 21 de abril; os ciclistas enfileirados descendo as pontes; churrasquinho de palito às sextas; pizza em casa aos sábados; frango de padaria aos domingos... E mais: os caminhantes diários em volta do Jardim São Benedito; o uso de toalhinhas para secar rosto, a fim de minimizar o calor; o cumprimento “oi” entre amigos; o pedido feito em filas: “Guarde a minha vez um pouquinho, já tô voltando” ...E mais outra tantas, que considero marcantes : os doces regionais; a Feira da Roça; a lenda do Ururau da Lapa; a curva da Lapa;o vento nordeste;o linguajar; o rio Paraíba do Sul; a planície e os canaviais; as torres das Usinas e da Fábrica de Tecidos; a Festa de Santo Amaro e o bairrismo, que nos acompanha como carta de apresentação...

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