Saltando na chuva

Walnize Carvalho

Reverencio, admiro e espio pela janela a enorme cortina de gotas cristalinas.No fio elétrico do poste elas atravessam cuidadosamente de um lado a outro, tal qual equilibristas na corda bamba em apresentação circense.
Visto o espetáculo, resolvo contagiar-me da chuva e saio de casa.
Oito horas da manhã. Munida de capa e guarda-chuva sigo pela calçada da rua deserta rumo ao centro da cidade.
De uma das residências ouço uma melodia que me estimula a dar alguns saltitos.
De imediato me vem à memória a figura ímpar do ator-bailarino-coreógrafo e cantor Gene Kelly em papel principal no filme “Dançando na Chuva” – um dos maiores clássicos entre os musicais produzidos por Hollywood.
De repente, é como se a canção-tema SINGIN’ IN THE RAIN ecoasse no espaço.
Paro sob uma marquise.
Com olhos semicerrados pareço ver diante de mim os cenários e figurinos deslumbrantes que marcaram época...
Saio da ficção e mergulho na realidade.
Sigo em frente.
Na primeira esquina um carro passa em alta velocidade dando-me um banho inesperado.
Atravesso a rua. A calçada esburacada faz-me dar saltos e saltos...
No Boulevard dois senhores entusiasmados saúdam a “chuvarada que veio para salvar a lavoura”.
Na porta da loja uma moça pragueja: - Que chato! O fim-de-semana não vai dar praia!... A colega retruca: - Para mim será ótimo, pois irei colocar o sono em dia!...
Caminho driblando guarda-chuvas, (deveria haver mão e contramão para pedestres!), poças d’água, correria e até mau humor das pessoas.
Retorno à casa.
Trocando os trajes recolho-me ao quarto.
Lá fora a chuva continua em cartaz.

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