Lula, Maluf e Mano - Por Xico Sá



Amigo torcedor, amigo secador, nunca o futebol foi uma cópia da política nacional como agora. É a aliança do ex-presidente Lula com Paulo Maluf, por exemplo dos mais retumbantes, que se articula para tentar segurar Mano Menezes no comando da seleção brasileira.
Deu na coluna da Mônica Bergamo, aqui nesta Folha, não sei se você se lembra, que há uma articulação neste sentido, jantar secreto etc. O camarada há de perguntar: O que tem a ver o cós com as calças, onde entra Maluf nesta história? Ora, deixo a resposta para o espelho do próprio presidente da CBF, José Maria Marin. Há alguém tão malufista como este ex-governador paulista?
As peças se juntam. Elementar, meu caro leitor incrédulo. Mais conspiração, por favor, seu garçom. Repare que o eterno gênio da pequena área e atual deputado federal Romário é o principal inimigo público de Mano. O nobre parlamentar pertence a qual partido, caríssimo? Obviamente ao PSB, ex-aliado petista que vive uma treta braba com a agremiação de Lula. Romperam até em Pernambuco, o berço da humanidade.
Faz sentido ou não esta história? Ah, é no mínimo curiosa. Como parlamentar atuante, Romário, no entanto, deveria, além da esculhambação de praxe, provar o que diz. Apenas insinua, no vazio, que o técnico se aproveita do poder da seleção para fazer negócios. Quais, nobilíssimo deputado carioca?
Amigo, nem deveria estar tratando de assunto tão chato. O personagem da semana é o tio Nelson Rodrigues, 100, santo que protege os raros cronistas cegos para a bola e de olhos bem abertos para a dramaturgia do jogo e da vida, amém.
O personagem de corpo e alma é Nelson, mas até a cabra vadia sabe que a cabeça da vez, o Judas fora de época, é o técnico do time canarinho. Nunca um homem nesta maldita função foi tão alvejado com tamanha distância da Copa.
Cabeça a prêmio, meu caro Marçal Aquino, o gaúcho resiste bravamente. O que não falta, porém, é pistoleiro em busca do alvo. Nem dentro da própria casa, a CBF, agora com CEP e DNA paulista, o Mano está longe de ser unanimidade.
Particularmente, embora já tenha duelado com ele em público --no programa "Cartão Verde", da TV Cultura--, não vejo motivo para a queda. Não foi o único que perdeu a medalha de ouro olímpica. Está sim em busca de um time. Por que jogar no lixão ludopédico todo esse trabalho feito até agora?
Independentemente de subterrâneas alianças políticas, não há motivos, além de especulações filosóficas --discordar ou não da sua linha estética-- para mandá-lo embora. De qualquer forma, fosse um faroeste, como sempre comparo, vivemos um momento digno de "Tragam-me a cabeça de Alfredo Garcia" (1974), filme genial do diretor Sam Peckinpah.
Xico Sá
Xico Sá, jornalista e escritor, com humor e prosa, faz a coluna para quem "torce". É autor de "Modos de Macho & Modinhas de Fêmea" e "Chabadabadá - Aventuras e Desventuras do Macho Perdido e da Fêmea que se Acha", entre outros livros. Na Folha, foi repórter especial. Na TV, participa dos programas "Cartão Verde" (Cultura) e "Saia Justa" (GNT). Mantém blog e escreve às sextas, a cada quatro semanas, na versão impressa de "Esporte".

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