Pais e mães heróis

Ontem fiz aniversário e acho que depois do dia bacana com a família e os amigos reunidos, tive uma crise existencial ou algo do tipo, na madrugada. Resultado: só consegui dormir perto das 6 da manhã. E fazendo um giro pela internet, achei este texto da Martha Medeiros. Fala sobre o tempo, nossos pais, nossos heróis....De alguns anos para cá tenho tido perdas constantes e abruptas na família. E acho até que a insônia nesta madrugada foi um medo que tenho muitas vezes. De morrer e não ter feito um papel decente aqui. Chega de lenga lenga...Vamos ao texto da Martha:

"Pais heróis e mães heroínas do lar.
Passamos boa parte da nossa existência cultivando estes estereótipos. Até que um dia o pai herói começa a passar o tempo todo sentado, resmunga baixinho e puxa uns assuntos sem pé nem cabeça. A heroína do lar começa a ter dificuldade de concluir as frases e dá de implicar com a empregada.O que papai e mamãe fizeram para caducar de uma hora para outra?Envelheceram....Nossos pais envelhecem. Ninguém havia nos preparado pra isso.
Um belo dia eles perdem o garbo, ficam mais vulneráveis e adquirem umas manias bobas. Estão cansados de cuidar dos outros e de servir de exemplo: agora chegou a vez deles serem cuidados e mimados por nós, nem que pra isso recorram a uma chantagenzinha emocional. Têm muita quilometragem rodada e sabem tudo, e o que não sabem eles inventam. Não fazem mais planos a longo prazo, agora dedicam-se a pequenas aventuras, como comer escondido tudo o que o médico proibiu. Estão com manchas na pele. Ficam tristes de repente. Mas não estão caducos: caducos ficam os filhos, que relutam em aceitar o ciclo da vida. É complicado aceitar que nossos heróis e heroínas já não estão no controle da situação. Estão frágeis e um pouco esquecidos, têm este direito, mas seguimos exigindo deles a energia de uma usina. Não admitimos suas fraquezas, seu desânimo.
Ficamos irritados e alguns chegam a gritar se eles se atrapalham com o celular ou outro equipamento e ainda não temos paciência para ouvir pela milésima vez a mesma história que contam como se acabassem de tê-la vivido. Em vez de aceitarmos com serenidade o fato de que as pessoas adotam um ritmo mais lento com o passar dos anos, simplesmente ficamos irritados por eles terem traído nossa confiança, a confiança de que seriam indestrutíveis como os super-heróis. Provocamos discussões inúteis e os enervamos com nossa insistência para que tudo siga como sempre foi. Essa nossa intolerância só pode ser medo. Medo de perdê-los, e medo de perdermos a nós mesmos, medo de também deixarmos de ser lúcidos e joviais.
Com todas as nossas irritações, só provocamos mais tristeza àqueles que um dia só procuraram nos dar alegrias. Por que não conseguimos ser um pouco do que eles foram para nós? Quantas noites estes heróis e heroínas passaram ao lado de nossa cama, medicando, cuidando e medindo febres !! E nós ficamos irritados quando eles esquecem de tomar seus remédios, e ao brigar com eles, os deixamos chorando, tal qual crianças que fomos um dia. É uma enrascada essa tal de passagem do tempo. Nos ensinam a tirar proveito de cada etapa da vida, mas é difícil aceitar as etapas dos outros...
Ainda mais quando os outros são nossos alicerces, aqueles para quem sempre podíamos voltar e sabíamos que estariam com seus braços abertos, e que agora estão dando sinais de que um dia irão partir sem nós. Façamos por eles hoje o melhor, o máximo que pudermos, para que amanhã quando eles já não estiverem mais aqui conosco, possamos lembrar deles com carinho, de seus sorrisos de alegria e não das lágrimas de tristeza que eles tenham derramado por nossa causa. Afinal, nossos heróis de ontem serão nossos heróis eternamente."
Martha Medeiros

Comentários

Anônimo disse…
Há algum tempo conheci seu antigo blog. Até hoje te digo que poderia mantê-lo na ativa, principalmente com textos assim. Depois de algum tempo nos conhecemos pela internet, msn e tudo mais... VoCê um homem muito sensível e com certeza este foi um dos fatores de estar aqui sempre. Te prometi que começaria a deixar alguns comentários, pois sabe que sou muito reservada e tímida para algumas coisas. Acho que hoje é o dia de cumprir o combinado. Espero sinceramente que esteja melhor. Obrigado pela reflexão que nos traz com este texto da Martha. Sou leitora frequente de seus textos. Mais um ponto pra você.
Beijo grande.
FÁBIO SIQUEIRA disse…
Parabéns Netão!!!
Felicidades e um bom 2009!
Bela mensagem.
Abs
Anônimo disse…
Ânimo rapaz!!!!E sem esses pensamentos que em nada ajudam!!!!
forte abraço e muita luz!!!
Unknown disse…
Li o post e não pude deixar de pensar que...os heróis e heroínas...as crises, as idades ...não têm fronteiras...acho que a partir dos 35...começamos a fazer alguns balanços...
Ana Paula Motta disse…
Fazemos alguns balanços,para mais e para menos. Como afirma a Martha em outra crônica“Depois dos 35 ( ... )estamos mais aptos a dizer que infelicidade não existe, o que existe são momentos infelizes. Sai bem mais em conta.” Isso dá um alívio e uma esperança que nossa cabeça oca aos 20 anos não nos permitiam ver e sentir.
Hum!!!! Que verdade!!! E me lembrei daquela música do... (não me lembro o nome)... iiiiiiii!!!!

"Naquela mesa ele sentava sempre
E me dizia sempre
O que é viver melhor.

Naquela mesa ele contava história que hoje na memória eu guardo e sei de cor.

Naquela mesa ele juntava gente e contava contente o que fez de manhã.

E nos seus olhos eram tanto brilho, que mais que seu filho, eu fiquei seu fã.

Eu não sabia que doía tanto, uma mesa no canto, uma sala, um jardim

Se eu soubesse como dói a vida esta dor tão doída nao doía em mim

Agora resta uma mesa na sala e hoje ninguém mais fala no seu bandolim.

Naquela mesa tá faltando ele e a saudade dele, tá doendo em mim.

Lembrei do autor: Sérgio Bittencourt.

Lembrei mesmo, não foi pesquisa... ( num tô tão mal assim...)

Tenho pensado sobre isto dos mais velhos só falarem do passado repetidas vezes...

É que ninuém senta perto deles para lhes falar do presente, e nem sempre eles estão voltados para leituras...
Não é porque são velhos... Creia.

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