Coletiva da FIFA tem constrangimentos
Política, ditadura e protestos em coletiva irritam Fifa; Marin se defende e agradece até a Collor e Sarney
Por Tiago Leme e Pedro Henrique Torre, do Rio de Janeiro (RJ), para o ESPN.com.br
No discurso inicial feito pelos dirigentes elogiando a
competição realizada no Brasil, Marin fez agradecimentos politicos,
citando a "presidente Dilma Rouseff, que sempre manifestou total apoio, o presidente
Lula, que às 3h da madrugada me ligou da Etiópia", e até os
"presidentes José Sarney, Michel Temer, Collor, Fernando Henrique
Cardoso e Renan Calheiros, além dos governadores, prefeitos e
presidentes de clubes e federações".
E logo na primeira
pergunta feita por um jornalista sueco já colocou Marin em uma situação
delicada. O presidente da CBF ainda tentou fugir do assunto ao ser
questionado se as manifestações da população serviriam para que ele
fosse mais transparente na prestação de contas da entidade e sobre o seu
envolvimento com a ditadura militar no país.
"Eu me considero um
verdadeiro democrata, em qualquer sentido. Acho que qualquer
manifestação pacífica tem de ser respeitada, o que ninguém admite é o
saque, o roubo, a violência. A manifestação pacífica, sem violência,
todos nós respeitamos. Além da conquista da Copa das Confederções, nós
demonstramos que somos um país democrático. Tenho certeza que os
brasileiros e os estrangeiros vão verificar que futebol é futebol. Não
houve nenhum incidente nas praças esportivas. Muito pelo contrário.
Houve festa, muita educação e solidariedade", disse Marin, que
completou.
"Talvez você acredite que uma mentira repetida
mil vezes se torne verdade. Um fato que não tem nada a ver com política
ocorreu em 1975. Depois disso, fui governador, vice-governador,
presidente de federação e nunca aconteceu nada. Quando cheguei ao cargo
de presidente da CBF é que isso foi mencionado, um fato que não tem anda
a ver. Sou um homem da paz. Não me arrependo de nenhum ato de minha
vida. Nunca fiz dolosamente nada a ninguém, sou e me considero um
verdadeiro democrata".
Pedro Henrique Torre/ESPN.com.br
Na
sequência, José Maria Marin ainda teve que responder sobre sua suposta
ligação com a prisão e a morte de Ivo Herzog, filho do famoso jornalista
Vladimir Herzog, na época da ditadura. Em 1975, em um discurso feito na
Assembleia Legislativa de São Paulo, o então deputado Marin fez um
aparte em discurso de Wadih Helu pedindo que fossem tomadas providências
quanto à TV Cultura, da qual o Vladimir Herzog era diretor. Duas
semanas depois das palavras de Marin no plenário, Herzog foi convocado
para prestar informações ao Destacamento de Operações de Informações -
Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi). No mesmo dia, ele foi
encontrado morto em uma cela; os militares afirmaram que o jornalista
havia se enforcado. Mais tarde, a família de Herzog recebeu uma nova certidão de óbito, trocando a causa mortis de suicídio para lesões e maus tratos.
"Dei
um aparte de dois minutos. Não estava divulgando as obras que o
governador estava inaugurando no interior de São Paulo e que notava a
ausência disso. Este jornalista, então, fez esta menção. Eu disse para
um jornalista, apesar de ser subsdiária do governo, não divulgar as
obras, ou o governador tinha razão em reclamar ou o jornalista não
estava dizendo a verdade, que o secretário da cultura apurasse quem
estava fazendo. Não mencionei nomes", afirmou o presidente da CBF e do
COL (Comitê Organizador Local).
A insistência nas perguntas
fora do tema Copa das Confederações causou incômodo ao presidente da
Fifa, Joseph Blatter, e ao secretário-geral da entidade, Jérôme Valcke,
que também estavam presentes na mesa. Blatter, principalmente, fez
questão de elogiar e aprovar a organização do torneio feito pelos
brasileiros, mas não escondeu em sua expressões o desconforto com a
situação. Em um determinado momento, um irritado Valcke escreveu algo em
um papel e passou um bilhete para Walter de Gregório, diretor de
comunicações na Fifa, que em seguida mandou um recado à imprensa e vetou
questões de temas não relacionados ao futebol.
"Essas podem ser boas questões, mas não vamos mais aceitar perguntas fora da Copa das Confederações", avisou.
O
discurso político de elogios à organização da Copa das Confederações no
Brasil e de destaque à capacidade e ao esforço feito pelo país para a
realização da competição ainda deu o tom das palavras de Aldo Rebelo,
ministro do Esporte. Depois, Rebelo ainda teve que comentar a ausência
da presidente Dilma Roussef na decisão entre Brasil e Espanha, no
Maracanã. Na abertura, em Brasília, ela foi vaiada ao fazer o discurso
inicial ao lado de Blatter.
"A presidente Dilma fez a opção de
fazer a saudação à seleção brasileira por via de uma nota que foi
comunicada por telefone, e eu representei o Governo no jogo da final e
na solenidade de encerramento. O Governo tem feito um esforço grande
para transformar a preparação para a Copa do Mundo e para a a Olimpíada
em promoção da melhoria da infraestrutura urbana das cidades", disse o
ministro, que também falou sobre as manifestações pelas ruas do país.
"Em
meio a batalhas importantes nas ruas, aos movimentos sociais de pessoas
buscando seus direitos, acho que conseguimos oferecer segurança aos
manifestantes, torcedores e jornalistas. Não creio que ninguém tenha
sido molestado por causa das manifestações. O povo foi para a ruas
protestar, e os excessos de violência e vandalismo foram enfrentados
como deveriam ser enfrentados. Nós podemos com essa experiência na Copa
das Confederações aprender e antecipar problemas pra a realização da
Copa do Mundo".
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