Sociedade Saúde
O sedentarismo é mais letal do que o hábito de fumar. O maior
levantamento sobre atividade física já realizado, e divulgado a pouco
mais de uma semana dos Jogos Olímpicos de Londres, mostrou que o tabaco
faz 5,1 milhões de vítimas anualmente no mundo. A inatividade é ainda
pior: 5,3 milhões — em 2008, isso seria quase 10% da quantidade total
de mortes (57 milhões). Quantidade suficiente para ser classificado
pelos pesquisadores como “pandemia”. A falta de exercícios responde por
6% das doenças coronarianas, 7% das diabetes tipo 2, e 10% dos cânceres
de mama e de pulmão.
Dos adolescentes, 80% são inativos
Sede
da próxima Copa do Mundo e próximo país a receber as Olimpíadas, o
Brasil surpreendeu negativamente. Considerando todas as 122 nações
analisadas pelo levantamento, onde se concentram 89% da população do
planeta, o percentual de sedentários é de 31%. Aqui, é de 49,2%. Um dos
coordenadores da pesquisa, o epidemiologista Pedro Hallal, da
Universidade de Pelotas, acredita que o país sofre com um “ambiente
desfavorável” ao exercício.
— Uma pessoa de nível socioeconômico
baixo, que trabalha e estuda o dia inteiro e não tem dinheiro para
pagar uma academia, não vai praticar qualquer atividade física na rua à
noite — explica Hallal, um dos 33 pesquisadores envolvidos com o
trabalho. — Há intervenções sendo testadas em diversas cidades e que,
em cinco ou dez anos, podem fazer o índice de sedentários cair
bruscamente, como o fechamento de ruas para ciclistas e pedestres no
fim de semana e o advento de academias populares. E também é preciso
investir em políticas de maior escala, como estimular o gosto pela
educação física nas escolas.
Não é uma missão fácil. Em todo o
mundo, 80% dos adolescentes se negam a levantar da poltrona. Ao menos
na quantidade necessária para se considere sua vida saudável. Entre os
adultos, segundo a Organização Mundial de Saúde, isso equivale a 2
horas e meia semanais de exercícios moderados. Nos mais jovens, é o
dobro do tempo.
— Mesmo que a exigência seja maior, é um absurdo
que um percentual tão grande não a atinja — condena Hallal. — Pelo
histórico das últimas décadas, tudo indica que a situação tende a
piorar. O exercício faz a diferença mesmo que ainda carecem de mais
análise. Existe forte evidência, por exemplo, que um gordinho ativo tem
saúde melhor do que o magro sedentário.
O computador está por
trás da frente da “pandemia” dos sedentários. O dispêndio energético do
americano no trabalho caiu, em média, 100 kcal nos últimos 50 anos. Os
Estados Unidos não tiveram um resultado excelente no ranking, mas
ficaram à frente do Brasil — apenas 40,5% de sua população não é ativa
fisicamente.
Na maioria dos países, os homens são mais ativos
fisicamente do que as mulheres — 27,9% deles não fazem exercícios;
entre elas, o índice é 33,9%.
— É uma questão cultural. No Sul da
Ásia, por exemplo, a diferença entre os sexos é abismal, até porque as
mulheres não vão para a rua — lembra Hallal. — Mas, mesmo em países
ocidentais, os homens costumam ser mais engajados em aproveitar seu
tempo de lazer com atividades físicas. E as mulheres atacam o
sedentarismo com atividades domésticas. Não é preciso praticar esporte.
Basta fazer algo que eleve o batimento cardíaco .
O ranking é
farto em dados insólitos, especialmente em seus extremos. Nem sempre os
países desenvolvidos têm mais pessoas dispostas a correr atrás de sua
saúde. Malta, um arquipélago no sul europeu, é o lar dos preguiçosos:
71,9% de sua população não pratica atividades físicas. Bangladesh, por
sua vez, é o mais preocupado com a boa forma: só 4,7% de seus
habitantes são inativos.
Hallal considera que sedentarismo e
tabagismo são igualmente danosos à saúde. O primeiro mata mais em
números absolutos, enquanto o segundo é pior proporcionalmente. Afinal,
26% da população fuma, enquanto 31% não pratica exercícios.
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