Celso Blues Boy: escolhi minha vida e escolho minha morte
Fumante, Celso não procurou tratamento para a doença.:foto: reprodução internet |
Lembrança de um amigo
Somos amigos de infância e tive o prazer de conviver muitas das fazes de sua vida. Quando foi expulso de casa na sua adolescência morou na minha casa por alguns meses antes de ser o Celso Blues Boy. Quando descobriu sua veia de Bluseiro, curti suas músicas quase em primeira mão (Aumenta que isso ai é Rock Roll, Sempre Brilhará e outros clássicos por ele gravados para nosso puro deleite). Ao longo de sua jornada tocando com vários músicos e amigos em bares e mesas com muitas cervejas e papos memoráveis lembro de histórias de bastidores que dariam um grande livro !!!!!!
O Celso foi um cara muito ele, hora polêmico outras muito amigo e grande profissional. Batia de frente mesmo com quem tentava mudar sua postura ou vertente musical. Fechou um monte de portas por anos mas sempre seguindo um NORTE o qual ele acreditava ser o certo. Shows maravilhosos e memoráveis por esse mundo a fora e o melhor sendo reconhecido por celebridades como o 'REI' B.B. KING dentre outros. Muita musicalidade nas suas veias se tornando o MAGO DA FENDER como era conhecido no meio dos guitarristas de sucesso.
Temos muitos amigos em comum que estão chocados com a perda tão rápida desde o começo de sua doença. Eu, junto com outros verdadeiros amigos ( não quero citar nomes para não ter o risco de esquecer de alguém, acompanhamos esse prematuro fim de um ídolo do Blues. Fui junto com Roberto LLY levá-lo a vários médicos inclusive no INCRA, sendo atendido pelo próprio diretor para darmos início ao seu tratamento com o maior empenho para sua recuperação mas foi sem sucesso. Celso tinha como pensamento que, se tinha que passar por isso ele iria escolher como morrer, tocou um dane-se, literalmente tentando fazer tratamentos alternativos mas se alimentando muito mal e fumando e bebendo sempre sem parar.
Uma vez fiquei zangado com ele e falei que estava cansado de ver ele definhando a se matando sem se tratar e ele puto comigo me explicou: "escolhi minha vida e escolho minha morte". Agora, depois de perder o amigo, entendo sua explicação. Ele não queria morrer numa cama de hospital todo entubado e sem poder fazer nada do que gostava (beber, fumar e estar com os amigos). É muito ruim achar que temos que mudar as pessoas mas ele tinha a sua razão e isso tenho que reconhecer, ele fez valer até o fim.
Nosso último momento juntos foi depois do grande evento Rio Jazz & Blues, em Rio das Ostras. Ao acabar fomos para Macaé, para o aniversário do MOTOCLUBE DE MACAÉ. Ele recebeu uma homenagem e fechou o show que seria realizado em novembro abrindo a apresentação do Nazareth.
A última música que vi ele compor foi um hino para esse motoclube na própria pousada junto com Adriano (vice-presidente), Paulinho (diretor) e Edio (Diretor).
Estive em Cabo Frio na semana passada na casa do Marcelo Penedo que foi um grande manager e produtor do nosso amigo e estávamos falando sobre suas condições de não fazer mais shows e lamentávamos que seria o seu fim se ele não pudesse subir ao palco que sempre foi sua vida. Sua própria família pediu para o pouparmos, pois ele já estava sem condições e mesmo assim queria continuar tocando sempre.
Bom o que falar mais sobre esse cara a não ser agradecer a Deus por não deixá-lo sofrer no fim de tudo e ainda poder ter tido uma convivência com esse grande músico que com certeza está junto de Deus nos mandando a todos um BLUES ABRAÇO!!!!!!!!
Comentários
A primeira vez que vi Celso Blues Boy tocar foi num show numa escola ou clube ligado à comunidade judaica, na Rua São Francisco Xavier (Tijuca), em 1978. Fui para ver a banda Sangue da Cidade e acabei brindado com o talento daquele jovem guitarrista, que Di Castro chamava apenas de "Celsinho". Nunca mais me esqueci do cover que ele fez de "Take It Easy", dos Eagles. Talento puro. Um "toque" que era completamente fora do comum para um guitarrista brasileiro. Somente hoje, lendo sobre ele na mídia, entendo. Ele aprendeu a tocar ouvindo discos de B.B.King. Como fã confesso que fui surpreendido por essa estória. E por saber por você que ele cedo foi expulso de casa. Não me surpreenderia se o pai dele fosse militar (como o meu). Em suma, poderia falar muitas coisas sobre o seu grande amigo Celso (embora nunca tenha trocado nenhuma palavra com ele, apenas assistido seus shows nos anos 80, o sentimento que eu ando sentindo é como se ele fosse alguém próximo. Talvez porque algo muito precioso pra mim, pelo visto, foi-se junto com ele: minhas melhores lembranças de momentos felizes dos meus vinte anos). Parabéns pelo texto. Sinto muito pela sua dor. Espero que sinta conforto em saber como seus fãs, como eu, sentirão falta do talento do Celso. Tempos Difíceis. Um abraço, e se tiver oportunidade, mande um abraço para a família dele. Celso realmente viveu uma vida que deve ter valido a pena. Mesmo sem ter recebido (provavelmente, conhecidas as condições de vida do músico sério no Brasil, ainda mais nesses tempos de pirataria internética) o justo em dinheiro pelo seu talento.
David, se as estórias de bastidores do Celso Blues Boy realmente forem memoráveis, eu apelo para que você encontre quem as ponha no papel e publique. Um sujeito que escreve muito bem esse tipo de estórias é o Carlos Calado, que escreveu "A Divina Comédia dos Mutantes" (Editora 34). Quem sabe, com a ajuda de músicos amigos do seu amigo Celso, como Sá & Guarabira, fosse possível contactá-lo. Eu o compraria. E isto poderia ser algo a mais para a família do nosso ídolo. Felicidades bluesísticas pra você. Fernando (fern_cps@hotmail.com).