A marimba e a hipnose

Walnize Carvalho

Em mais uma bela tarde de verão estava eu sentada na varanda da casa de praia aguardando a passagem do vendedor de picolés.
A neta se postava no portão e de minuto a minuto questionava: - Será que ele não vem? Será que acabou o picolé de abacaxi?...
O vento travesso alvoroçava "os cabelos" da árvore em frente à casa.
A planta que naquele momento estava sendo visitada por um beija-flor, esquecia-se até da vaidade e se deixava ser despenteada.
Meus olhos corriam.
Do outro lado da calçada avistei a amendoeira da residência do vizinho.
Em meio às folhagens, um suposto barbante e em sua ponta uma pedra amarrada.
Pensei: - Deve ter sido algum menino que tentava colher frutos!...
Meu filho Guilherme se aproximou e eu lhe mostrei a cena. E ele, num misto de saudade e conhecimento me explicou que se tratava de uma marimba.
E saiu explicando : - Marimba é uma brincadeira de milhares de crianças brasileiras.
 É uma pedrinha que, amarrada a um cordão de barbante, é arremessada em direção às pipas a fim de resgatá-las. Quando não se tem pipa, a marimba pode ser jogada contra um oponente, tentando cortar o barbante do adversário. E arrematou :- Lembra-se de quantas vezes você vinha no portão me aconselhar para que só soltasse pipas à beira mar?...
Assim falando, saiu para assistir a garotada que toda tarde joga uma “pelada” no campinho de areia. Dobrando a esquina o grito:-Ó o picolé! acabou com a espera aflita da neta Valentina, que já trazia em mãos o dinheiro trocado e nos lábios a reclamação:- Você demorou,hein!? ...
E ficou por ali saboreando sua guloseima gelada.
Eu, novamente fixei o olhar na pedra amarrada no barbante da amendoeira.
Ela balançava de forma cronometrada como se fosse um pêndulo: para lá e para cá; para lá e para cá...
Meus olhos nem pestanejavam,como se eu hipnotizada estivesse.
E fui me distanciando ...indo de encontro à remotas brincadeiras da infância: O jogo de Amarelinha,onde com uma pedrinha na mão, um traçado no chão e leves saltitos estava feita a alegria.
Depois visualizei o “passa anel” que muitas vezes uma pedrinha qualquer substituía a jóia dada pela madrinha e que só era usada em ocasiões especiais...
Como em um passe de mágica despertei do meu estado de letargia, deixei a varanda resmungando: - Ah!, vida adulta!...Uma luta diária para eliminar “as pedras do caminho”!...

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