João Máximo escreve sobre Seedorf

 Líder, xerife, paizão, o que veio de longe



O assunto já foi muito e devidamente debatido pela turma do "Linha de Passe", mas, mesmo com atraso, peço licença para entrar nele. Refiro-me a Clarence Clyde Seedorf, o holandês de Paramaribo que, além de craque, acaba de se investir nas funções de dono do time. Time do Botafogo, claro. Bola para isso Seedorf tem. Num futebol brasileiro carente de grandes jogadores, exportando cada vez mais suas safras mais novas, um veterano como ele, já na casa dos 37, tem todo o direito de brigar pela condição de melhor jogador do Campeonato Brasileiro. Curiosamente, ou por causa da tal exportação, brigar com outros jogadores também veteranos como Alex, Zé Roberto, Juninho Pernambuco e poucos mais.
Reconhecido o talento do holandês, vamos ao que interessa: será que o status de craque concede a Seedorf o direito de ser o dono do time, dando ordens aos companheiros, gritando com eles, proibindo-os de dar entrevista e até, em pleno jogo, aplicando num deles um tapa que escandalizou meio mundo, inclusive os torcedores botafoguenses?
O currículo de Seedorf, o craque, é de tirar o fôlego: quatro vezes campeão da Champions League, duas pelo Milan, uma pelo Ajax e outra pelo Real Madrid. Mas será que, naqueles importantes clubes europeus, ela fazia o que faz aqui? É impensável vê-lo de dedo em riste na cara de Bergkamp, Mijakovic ou Pirlo, vencedores ao lado dele nos times pelos quais foi campeão. Certamente, não era o que fazia por lá.
É evidente que a Seedorf, o craque, o Botafogo deve muito de sua atual campanha no Campeonato Brasileiro. Com a bola nos pés, e mesmo como líder, o homem vale cada tostão que o clube investe nele. Mas há uma diferença entre o líder e o autoritário, entre um capitão de time e um dono do time. Imagine-se Seedorf dando um tapa em jogador de pavio curto com há tantos por aí (não no Botafogo). Imagine-se um árbitro sério e competente diante de uma cena dessas.
Alguns botafoguenses gratos (a gratidão, às vezes, cega), defendem seu craque, alegando que, a caminho dos 40, ele na verdade está ajudando garotos inexperientes como Vitinho, Gilberto e tal. Seria, assim, uma espécie de paizão, ou de irmão mais velho, pondo juízo na cabeça da meninada. Parece que o próprio Osvaldo de Oliveira pensa do mesmo modo. Por aí, chega-se à conclusão de que também como xerife Seedorf estaria ajudando o Botafogo. Será? Só esperemos que este admirável jogador - que empresta talento ao nosso futebol - não seja movido por aquela arrogância tão comum nos que vem de fora: a de que nós, brasileiros, para tomarmos jeito, merecemos mesmo uns bons tapas.


João Máximo é jornalista, dentista,  escritor, pesquisador e crítico musical. Colaborou com quase toda a grande imprensa do Rio e de São Paulo. Colabora com o jornal "O Globo" e escreve no site da ESPN Brasil semanalmente, além de participar do Pontapé Inicial, programa das manhãs do canal, todas as quintas.





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