O surgimento dos cervejochatos


Da coluna Conversa de bar
  Edu Passarelli(*)
Colunista do UOL

Com o crescimento do mercado das boas cervejas, surgiu um nicho de consumidores bastante, digamos, exigentes.
  Nos últimos cinco anos comandando bares dedicados à cerveja, acompanhei sua proliferação, mais ou menos como o Gizmo em contato com água.
São os caras que conhecem todas as regras do jogo: qual o copo perfeito para tal cerveja, a temperatura ideal, a forma de serviço, e sempre têm um discurso antes de beber, contando a origem, as características do estilo e outras peculiaridades.
E a pronúncia correta? Falam alemão, flamengo e inglês como nativos. Coitados dos garçons...
Outro dia, um amigo pediu um estilo americano – American Pale Ale – 'abrasileirando' sua sigla e chamando por 'ÁPA' mesmo. Imediatamente foi corrigido por outro: 'ei-pi-ei' é a forma correta.
  Para! Esse cara não deve dizer FBI, apenas 'ef-bi-ai'!
Existem também as variações digitais dos cervejochatos.
 Eles passam o dia em redes sociais, comentando os passos de pessoas do meio cervejeiro ou analisando lançamentos e postando suas fotos, principalmente daquelas cervejas que causam inveja ao bebedor mais comum.
Frequentam fóruns, mantêm blogs e, por trás dos teclados, são valentes como poucos.
Por aqui mesmo, nesta coluna, já enfrentei alguns, comentando ferozmente textos com os quais eles não concordavam
  Se você se identifica com as características acima, pode estar se tornando um cervejochato.
Eu sei, é difícil admitir. Falo por experiência própria. Quando percebi, eu já era um cervejochato. Meus amigos não me chamavam mais para o bar, minha família tinha medo de comprar cervejas para suas festas e minha mulher quase me largou, quando a ofendi por estar bebendo uma Imperial Stout estupidamente gelada em um copo de Weizen.
Agora parei.
Estou há muitos dias sem praticar cervejochatisse. Ou não.

(*)Edu Passarelli é especialista em cervejas e autor do Blog Edu Recomenda. É dono de bar. E foi nesse mundo, em uma dia qualquer da década de 90, que provou uma cerveja especial. E não parou mais. Blog Edu Recomenda

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