"É doce morrer no mar..."

Com o "fim do mundo" previsto para amanhã fui ver o mar.
Lembrei-me de uma crônica que fiz e reproduzo agora:

Ao encontro dela

  Nasceram juntas. Foram criadas juntas. Mas, de há muito não se encontravam. Não por falta de querer, de necessitar até.
Com o corre-corre diário, afazeres, viagens, compromissos, o tal sonhado encontro não se concretizava.
Haveria de se ter este tempo.
Tempo de matar saudades, escutar, dialogar, chorar dores acumuladas, dividir vitórias alcançadas, falar de planos futuros, relembrar o passado, pôr em dia o presente, reavaliar decisões tomadas, filosofar, rir de frivolidades, comentar assuntos como: moda, a nova novela das nove, o novo corte de cabelo, a dieta sempre adiada.
Fazer um pouco de análise sobre a crise mundial, futebol,"o fim do mundo"... sei lá!
Gastar alguns minutos, quem sabe, horas botando o papo em dia.
E foi neste ímpeto de desejo inadiável que ela decidiu ir ao encontro dela.
Tomou uma ducha de água fria, ajeitou os cabelos molhados e os amarrou com um laço de fita. Arrumou-se de forma despojada (afinal, a estação verão convida à descontração): vestido leve e colorido sobre a pele e sandália rasteira nos pés.
Abriu a porta de casa e saiu sem ser notada pelos familiares.
O sol já se punha quando caminhou em direção ao mar.
Sentou-se à sua frente olhando distraída a linha do horizonte.
O olhar fixo fez com que cerrassem as pálpebras.
Deixou-se levar pelo cansaço e estirou o corpo sobre a areia úmida em total entrega, ficando neste estado de letargia por algumas horas.
Foi despertada pelo ruído de um avião que cruzava o céu em direção a alguma plataforma da Petrobras.
Pegou “carona” no voo e, afinal, foi ao tão sonhado encontro consigo mesma.

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