Dedo na ferida- Por Renato Maurício Prado



Dedo na ferida


O contraste entre duas entrevistas recentes expôs de forma crua e dolorosa o abismo que nos separa do primeiro mundo no futebol. Na ESPN Brasil, o arrogante, mas objetivo alemão Paul Breitner (ex-cracaço de bola e hoje em dia dirigente do Bayern de Munique) diagnosticou, com precisão, boa parte de nossos defeitos. Já na TV Cultura, o ministro do Esporte Aldo Rebelo... ai, ai, ai! 

Enquanto Breitner usou argumentos baseados em resultados e números, mostrando como estamos atrasados, não somente em termos técnicos e táticos, mas também na gestão do “negócio” do futebol; Rebelo tentou justificar, com “patriotismo”, absurdos como o elefante branco erguido em Manaus para a Copa. Constrangedor. 

Se nossos treinadores já ficaram furiosos ao ouvir Paulo Autuori dizer, há alguns dias, que estão ultrapassados, imagino como se sentirão agora diante da análise fria do ex-jogador alemão, que considera que o Brasil parou no tempo em 2002. 

— O futebol que vi a seleção brasileira jogando contra a Inglaterra e a Itália é coisa do passado, completamente superado. O presente e o futuro estão no tipo de jogo que executam o Barcelona, a Espanha e os clubes e a seleção alemã — disparou (os quatros semifinalistas da Liga dos Campeões desse ano são desses dois países). 

Em contrapartida, nosso ministro defendeu, candidamente, a esdrúxula tese de que os problemas estruturais no Engenhão (construído há seis anos!), não chegam a ser nada demais, pois, afinal, “ele recebeu os jogos dos grandes clubes nos últimos tempos”... Meu Deus! 

Em resumo, Breitner colocou o dedo na ferida, ao dizer, por exemplo, que Guardiola na nossa seleção não adiantaria nada (“não teria mais que dois ou três dias antes de cada jogo para acertar a equipe e o necessário é a modernização do futebol nos clubes”). E mais: que só se poderá garantir que Neymar é craque quando ele brilhar contra os melhores jogadores do mundo, na Europa. Cirúrgico. 

Uma de nossas maiores chagas, entretanto, não foi exposta por Breitner, mas ficou escancarada na canhestra entrevista de Aldo Rebelo na Cultura. Que ainda teve o ridículo atroz (e inconveniente) de um ministro se apresentar para falar na TV trajando agasalho de atleta e com um gigantesco logotipo da Nike no peito... 

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