Carona na conversa


Walnize Carvalho
         Viagem:Campos-Niterói(abril/2009)
         Ajeitei-me – como de costume – em poltrona da janela , pois tenho o hábito de, entre a leitura de algum livro ou jornal, passar os olhos na estrada: Ver  o verde dos canaviais;  os animais nos pastos;  velhas traves de futebol em terreno batido;  as casinhas posicionadas no alto dos morros onde galinhas ciscam o terreiro, no varal roupas dançam ao vento e há sempre um morador na varanda ouvindo seu rádio de pilha.
         A minha imaginação chegou a visualizar neste bucólico cenário  uma placa que dizia: “Morada da Felicidade” ou “Paz Ville”- sem terrenos à venda.
          Fechei a cortina. Observei que a senhora ao meu lado esboçara  vontade de
conversar.Correspondi com meia dúzia de palavras e retomei à minha leitura.
           Foi quando a conversa (quase monólogo) entre dois passageiros da outra fileira  chamou-me a atenção(não só minha ,mas  de outras pessoas) pelo alto tom da voz.
Ele de forma entusiasmada relatava um fato recente ocorrido com ele: - Rapaz! Dia desses fui a um programa de rádio.Chama-se “Em busca da alma gêmea”.
Após revelar meu perfil ,imediatamente,ligou uma candidata.
Marcamos encontro para o dia seguinte.
No horário e lugar determinado vi um carrão se aproximando...
A motorista ligou a seta, abaixou o vidro e abrindo um sorriso chamou pelo meu nome.
Confirmei e...amarelei! A moça (de voz macia)  não correspondia a beleza idealizada,mesmo assim embarquei.
Paramos no shopping,desfilei com ela e sugeri  um chopinho para eu criar  coragem!Ela falava, falava...e eu, quieto a tudo ouvia planejando uma saída honrosa
.Repentinamente,tive a ideia de dizer sobre a minha enxaqueca, que já começava a dar sinal de vida.
Simulei desconforto, mal estar e dali mesmo me despedi...
        Impossibilitada de concentrar-me em minha leitura tratei de pegar carona na conversa da senhora  do meu lado ,que já se virara e puxava assunto com uma moça da poltrona detrás.
        Em meio ao blá blá blá reinante,o passageiro das bravatas sentimentais aquietou-se.
       Acho que adormeceu ou ,de fato, a sua verdadeira “alma gêmea” – a enxaqueca – chegara para lhe fazer companhia. 
           

             

             

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Alzira Vargas: O parque do abandono

Carta de despedida de Leila Lopes