Vai uma graxa aí?


Walnize Carvalho
Você tem ouvido nos últimos tempos esta abordagem nas ruas? Creio que não! E nem eu...
Foi lembrando deste personagem sumido da paisagem urbana, e que em tempos outros, encontrava-se com frequência no Calçadão, na Praça São Salvador e em outras cidades, que resolvi contar aqui  um fato que se deu comigo, ao tempo que residia em Niterói: Como quem procura agulha em palheiro saí à caça de um engraxate...Na verdade, de um sapateiro, melhor dizendo, de uma sapataria, onde por certo acharia o profissional que solucionasse o meu caso.
E tudo começou quando observei que o calçado escolar da neta (de cor branca!?!) merecia melhor trato.Mesmo com poucos quilômetros de uso já apresentava desgaste pelas piruetas e saltitos da menina.
Depois de entrar em ruas, dobrar esquinas, olhar letreiros... Miragem! deparei com: “Sapataria Vapt Vupt” –conserto e tintura de calçados, bolsas e cintos.
Entrei. Meia dúzia de pessoas para serem atendidas na minha frente: na fila, três; na porta, duas e em um banquinho no canto, uma senhora que olhava impaciente para o relógio.
Fiquei aguardando a minha hora e, como eu, os presentes ouviram o diálogo entre o senhor e o sapateiro:- Veja só! A minha mulher já havia colocado no lixo esta minha 007! Salvei a tempo e quero que o senhor a deixe “nos trinques”!...
O homem com lápis na orelha, coçou a cabeça e foi enfático: -Sei não,meu amigo! Acho que sua esposa tem razão! O preço do conserto não compensa. Dá até para comprar outra... Isso se achar!!
E ele: - Foi o que disse a ela. É raridade! Sem falar no valor estimativo!...
Depois de muito blá! blá! blá! e sem que chegassem a uma conclusão, o senhor saiu resmungando e, imediatamente, a senhora que estava sentada levantou-se e avisou que era a sua vez,no que teve que aguardar, pois o sapateiro estava no fundo da loja sorvendo um cafezinho.
E depois dela, os outros que por ali estavam foram atendidos ou, melhor, mal atendidos...
Aproximei-me para o atendimento. Tirei da bolsa o par de tênis, no que ele sem me dirigir palavra alguma, buscou embaixo do balcão uma latinha de tinta branca,um pincel, embrulhou a mercadoria e me deu o preço.
Olhei para ele e questionei: - Não é o senhor quem irá fazer o serviço? E afirmei: - Eu não sei pintar! E ele: - Ah, madame! Não tenho tempo!?!...
Saí, e olhando para trás reli o letreiro:”Vapt Vupt”. -Uma forma rápida de espantar os fregueses, pensei.
E eis que dia desses, retorno a um cenário antigo e familiar. Entro na Santa Efigênia e deparo com “seu” Joãozinho sapateiro, dentro do seu local de trabalho. O mesmo sorriso, a mesma presteza...o que me fez voltar outro dia para dar um “bute”em um calçado esquecido , mas que nas mãos do profissional cuidadoso voltaria a ter - como teve - vida nova...
E de calçado refeito e confortável nos pés, segui a trilha dos meus dias, com a leve impressão de ouvir ao longe o refrão: “Vai uma graxa, ai?” - tempos de delicadeza e bem servir...


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