"Apertem os cintos, a presidenta sumiu.", por Guilherme Fiúza
Revista Época - 20/12/2010
"A presidente eleita, Dilma Rousseff, é um sucesso no Twitter. Ficou em segundo lugar no ranking dos mais citados na febril rede de mensagens telegráficas em 2010. Perdeu apenas para o cantor adolescente Justin Bieber, que aliás se parece muito com Dilma. Os dois são pastéis de vento da cultura de massas e suas cabeças foram feitas pelos melhores cabeleireiros da modernidade brega. Não se sabe exatamente por que a primeira presidenta brasileira foi superada pelo ídolo canadense. Talvez ele tenha um plano de governo.
Aos 16 anos, Justin Bieber já tem até um filme sobre sua vida. É um exemplo e tanto para Dilma. Está provado que não é preciso viver para entrar na história. A presidenta está seguindo rigorosamente esta linha: não fez nada para se eleger, e depois de eleita prosseguiu, coerentemente, não fazendo nada. Em time que está ganhando não se mexe.
Agora a vice-campeã do Twitter tem tudo para virar filme também. Não importa se ela já fez tanto na vida quanto o adolescente Bieber. Isso o roteirista resolve. Qualquer problema, é só providenciar uns enxertos com pedaços da biografia de Norma Benguell, usando o mesmo expediente da campanha eleitoral. A transfusão de identidade, que fez Dilma aparecer no lugar da atriz numa passeata em 1968, foi um sucesso. Se ainda faltar material para o longa-metragem, ainda é possível encher linguiça com as peripécias de Erenice, alter ego da presidenta – tão prematuramente ceifada da vida pública só porque exercia seu instinto maternal na máquina administrativa. Puro preconceito contra a mulher.
Justin Bieber pode ser o rei do Twitter, mas não tem tudo. Não tem, por exemplo, um Edison Lobão no ministério. O velho novo ministro de Minas e Energia, aquele que no apagão convocou uma coletiva para ler um bilhete dizendo que ia ficar tudo bem, é quase uma força da natureza. Seria difícil supor de onde vem sua inexorável sobrevivência no poder sem um olhar profundo para o Estado do Maranhão, que o fez senador. Ali mora o mistério do Brasil moderno.
Ali mora José Sarney (fora um ou outro pernoite no Amapá, para um alô a seus eleitores). Lobão é só um dos ministros de Sarney no governo revolucionário da primeira presidenta. Justin Bieber precisaria nascer de novo em São Luís, no Maranhão, para entender o que é um reinado de verdade. Influenciar pencas de adolescentes pelo mundo não é nada. Difícil é influenciar pencas de contratações de parentes e amigos no Senado, ser apanhado com a boca na botija e continuar dando as cartas na República. Sarney é um milagre da dupla Lula-Dilma, um dos filmes mais incríveis que Hollywood não fez. O resto é água com açúcar.
Dilma não disse nada sobre a guerra no Rio, a inflação recorde de novembro e o ajuste fiscal
Nunca antes na história deste país se viu um presidente eleito sumir de cena de forma tão resoluta. Dilma não tem nada a dizer ao povo. Dilma não disse nada sobre a guerra no Rio de Janeiro. Dilma não comenta a inflação recorde de novembro. Dilma não fala sobre o ajuste fiscal que o velho novo ministro Mantega anunciou e o padrinho Lula desmentiu. Dilma não dá um pio sobre a crise da partilha do pré-sal, nem do pós-sal. Mas Dilma fala no Twitter:
“Amigos, muito legal ser tão lembrada no twitter em 2010. Logo eu, que tive tão pouco tempo p/ estar aqui c/ vocês. Vamos conversar mais em 2011”.
Imaginemos como prosseguirá essa conversa em 2011, aproveitando as duas palavras mais importantes da mensagem: logo eu, que não saio da sombra do meu inventor; logo eu, que só penso na cota do PMDB, na cota do PT e na cota do Sarney; logo eu, que articulo para presidente da Câmara um lunático que quer derrotar o capitalismo; logo eu, que rezo todos os dias para que a política econômica de Fernando Henrique não me abandone, e eu possa continuar surfando no folclore do oprimido. A musa do Twitter promete. Te cuida, Justin Bieber."
Aos 16 anos, Justin Bieber já tem até um filme sobre sua vida. É um exemplo e tanto para Dilma. Está provado que não é preciso viver para entrar na história. A presidenta está seguindo rigorosamente esta linha: não fez nada para se eleger, e depois de eleita prosseguiu, coerentemente, não fazendo nada. Em time que está ganhando não se mexe.
Agora a vice-campeã do Twitter tem tudo para virar filme também. Não importa se ela já fez tanto na vida quanto o adolescente Bieber. Isso o roteirista resolve. Qualquer problema, é só providenciar uns enxertos com pedaços da biografia de Norma Benguell, usando o mesmo expediente da campanha eleitoral. A transfusão de identidade, que fez Dilma aparecer no lugar da atriz numa passeata em 1968, foi um sucesso. Se ainda faltar material para o longa-metragem, ainda é possível encher linguiça com as peripécias de Erenice, alter ego da presidenta – tão prematuramente ceifada da vida pública só porque exercia seu instinto maternal na máquina administrativa. Puro preconceito contra a mulher.
Justin Bieber pode ser o rei do Twitter, mas não tem tudo. Não tem, por exemplo, um Edison Lobão no ministério. O velho novo ministro de Minas e Energia, aquele que no apagão convocou uma coletiva para ler um bilhete dizendo que ia ficar tudo bem, é quase uma força da natureza. Seria difícil supor de onde vem sua inexorável sobrevivência no poder sem um olhar profundo para o Estado do Maranhão, que o fez senador. Ali mora o mistério do Brasil moderno.
Ali mora José Sarney (fora um ou outro pernoite no Amapá, para um alô a seus eleitores). Lobão é só um dos ministros de Sarney no governo revolucionário da primeira presidenta. Justin Bieber precisaria nascer de novo em São Luís, no Maranhão, para entender o que é um reinado de verdade. Influenciar pencas de adolescentes pelo mundo não é nada. Difícil é influenciar pencas de contratações de parentes e amigos no Senado, ser apanhado com a boca na botija e continuar dando as cartas na República. Sarney é um milagre da dupla Lula-Dilma, um dos filmes mais incríveis que Hollywood não fez. O resto é água com açúcar.
Dilma não disse nada sobre a guerra no Rio, a inflação recorde de novembro e o ajuste fiscal
Nunca antes na história deste país se viu um presidente eleito sumir de cena de forma tão resoluta. Dilma não tem nada a dizer ao povo. Dilma não disse nada sobre a guerra no Rio de Janeiro. Dilma não comenta a inflação recorde de novembro. Dilma não fala sobre o ajuste fiscal que o velho novo ministro Mantega anunciou e o padrinho Lula desmentiu. Dilma não dá um pio sobre a crise da partilha do pré-sal, nem do pós-sal. Mas Dilma fala no Twitter:
“Amigos, muito legal ser tão lembrada no twitter em 2010. Logo eu, que tive tão pouco tempo p/ estar aqui c/ vocês. Vamos conversar mais em 2011”.
Imaginemos como prosseguirá essa conversa em 2011, aproveitando as duas palavras mais importantes da mensagem: logo eu, que não saio da sombra do meu inventor; logo eu, que só penso na cota do PMDB, na cota do PT e na cota do Sarney; logo eu, que articulo para presidente da Câmara um lunático que quer derrotar o capitalismo; logo eu, que rezo todos os dias para que a política econômica de Fernando Henrique não me abandone, e eu possa continuar surfando no folclore do oprimido. A musa do Twitter promete. Te cuida, Justin Bieber."
Comentários
A coitada da mulher, além de submissa, talvez nem tenha lido Democracia da América, este livro indispensável quem deseja governar o Brasil, denuncia nosso grande FH.
Ela deveria mesmo seguir os conselhos de FH e deixar de lado este padrinho. Dilma deve ser mesmo o cume da mulher submissa que foi colocada na presidência para que o seu padrinho masculino continue mandando. Visao de mundo própria? Nada. Visao de mundo própria e boa só tem mesmo o FH.