Conto de Natal


Socorro, a árvore de Natal caiu!

Por Ivone Boechat


O culto de Natal apenas começara e ouviu-se um estrondo. Uma tragédia. Na hora da oração, todos se assustaram com o barulho e o pinheirinho de Natal, lindo, cheio de penduricalhos, com muitos sacos de balas, caiu. As crianças tentavam segurar os galhos pesados, mas os pisca-piscas evitaram o pior. Os fios seguraram aquela beleza toda. Vieram os fiscais oficiais da árvore, os diáconos:

Quem derrubou ?

No inquérito, as perguntas e suspeitas vão e vem e um “irmão” foi logo perguntando :

Foi a filha do pastor ?

Felizmente, apesar dos meus pesados e experientes seis anos, não fui autora de tamanha tristeza. Na hora da oração (porque as orações antigamente davam tempo pra se fazer muita coisa, eram enormes), fui dar um passeio lá fora, para conferir as novidades, justamente, na hora em que a árvore caiu. Não derrubei a árvore, mas não me livrei da bronca pelo passeio na hora da oração...Era difícil ser criança!

Geralmente, a árvore ficava “plantada” perto do púlpito, até o dia trinta e um de dezembro. O zelador, então derrubava aquilo tudo e arrastava para uma grande fogueira. A gente (os filhos do pastor) ficava de plantão, porque já se tinha plena certeza de que algum saquinho de bala sempre ficava esquecido em algum galho escondido lá no alto. E na lei das crianças, quem vê primeiro é dono. Era um verdadeiro sufoco, com dois olhos somente, ter que descobrir, em segundos, a maravilha. Enfim, lá estava, não um, mas dois, três sacos de balas, entre os galhos murchos. Que festa... Ainda era preciso disputar com as formiguinhas o que sobrava, sem azedar. Grande correria, outra descoberta fantástica como essa, só daí a um ano.

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