Avyadores sem Luizz é Legião sem Renato Russo

Última foto de  Luizz Ribeiro atuando no comando dos Avyadores

No último sábado à noite, nossa Campos perdeu um de seus maiores expoentes na música popular, em especial do rock e do blues feitos aqui pela planície Goytacá. Pegava seu último voo aqui por estas bandas o “Avyador” Luizz Ribeiro, que ao longo da sua carreira não se rendeu a modismos, estéticas musicais e levou adiante seu ideal, para quem quisesse ouvir música de qualidade.

Quando comecei a me entender por gente, já ouvia falar de um tal Luiz “Negão” e sua guitarra, a bordo de uma tal banda chamada “Lúcia Lúcifer”. Era Luiz, dando seus primeiros passos na cena musical de Campos e que logo em seguida criaria os Avyadores do Brazyl, no apagar das luzes do regime militar. Lá se foram 28 anos à frente da banda. Muitos músicos por ela passaram, mas o “Brigadeiro” se manteve firme no propósito que acreditava: “a guitarra foi feita pra música, e não vice-versa”.

Sempre acompanhei os Avyadores como fã e foi com muita honra que em 1997 tive a oportunidade de estar lado a lado com Luiz no palco com a Big Band Blues Show. Como o nome sugeria, éramos 7 músicos fazendo blues e soul music. A ideia era ser uma espécie de banda paralela de todos os integrantes e sempre com uma rotatividade de músicos fazendo parte do Projeto. Fizemos duas apresentações somente. Quem conhece o meio sabe como é difícil manter uma rotina de ensaios para um “power trio”, o que pensar de 7 músicos?

Mas foi o suficiente para conhecer o profissionalismo com que Luizz Ribeiro encarava a música. Fazia questão de chegar no horário e sempre com as músicas devidamente ensaiadas de casa.

Continuei ao logo do tempo, sempre que podia, acompanhando os Avyadores nos mais variados lugares. Quando ia ao Picadilly ver a Red&Blues tocar (todas as sextas e sábados), não saía de lá sem ouvir uma de minhas músicas prediletas, “Cinco Horas Blues” de autoria do próprio Luizz Ribeiro. Sempre pedia essa e ele fazia questão de tocar, acompanhado pelo restante do grupo. Como negar um pedido de fã? Devia se perguntar...

Luiz era um sujeito de poucas palavras e muitas atitudes. Mesmo combalido pelo câncer descoberto no ano passado, fazia questão de manter a rotina de ensaios e shows. Era a forma de expressar seu sentimento e sua paixão pela música.

Esse ano tive mais uma honra, ao ser convidado por ele e seu parceiro de longas datas, que retornara a banda, Sérgio Máximo, a fazer parte dos Avyadores como produtor e ainda  fazer assessoria de imprensa para o  grupo. Era uma inovação para a cena da música campista. Sempre à frente de seu tempo, Luizz acreditava que estaria dando um passo adiante na carreira e dava um chega pra lá na doença.

Avyadores: Sérgio, Juan, Junior e Luizz
No último dia 2 de outubro a banda se apresentou em Rio das Ostras no bar Bossa & Blues. Luizz estava feliz em poder voltar à atuar em outras plagas. Era sua música “invadindo” outros territórios novamente. Até chegamos a pensar em ficar pela Região dos Lagos, aproveitando o domingo de eleição. Mas ele, sem titubear emendou: eu preciso voltar para votar nos meus candidatos”. Votou na Dilma para presidente.

Quis o destino que eu fosse o responsável pela última foto dele no palco e pelo “furo” mais triste para um jornalista, ao divulgar a morte de um amigo. Foi aqui no blog e no blog dos Avyadores, dando a notícia que ele havia partido para uma viagem, rumo à eternidade. Não posso negar, as lágrimas caíram sobre as teclas...

Talvez ainda seja cedo para a maioria dimensionar o tamanho da perda para nossa música. Coisa que o tempo se encarregará de fazer.

O grupo que  montou e que recentemente formava os Avyadores do Brazyl já decidiu continuar à levar adiante sua música. Mas com outro nome. Entra em cena a Banda 401, que terá no comando o então co-piloto Sérgio Máximo. O batismo é em homenagem à música “Alguma Coisa vai Acontecer no 401", do comandante Luizz.

A marca “Avyadores do Brazyl” vai junto com seu criador, pois Avyadores sem Luizz Ribeiro é como Legião Urbana sem Renato Russo.

Comentários

Anônimo disse…
Grande artista e pouco valorizado por nossos "comandantes" governamentais e empresários. Belo texto realmente
Celso Vaz disse…
Foda mesmo, Gustavo.
Parabéns pelos escritos. Tive a chance de ver o Luiz em ação apenas uma vez. O cara mandava muito bem.
Anônimo disse…
Ótimo texto Guga. Eu tbém era admirador da Aviadores desde os anos 80. Quanto ao novo nome, se houvesse uma enquete na net, opinaria por continuar, vide Legião. Fiquei triste qdo me ligou para dar a notícia e ao mesmo tempo feliz, por ter dado minha primeira e última e singela contribuição para que vc e o mestre Luiz pudessem ter um apoio em R.das Ostras(último show), pois logo q solicitou-me não titubiei pois, apesar de nunca ter tido a oportunidade de conversar com ele, notava que era um ser humano do bem, trabalhador, responsável e divulgador da boa música. Oremos para que ele possa ser amparado pelos amigos lá no céu/plano superior. M.Aurélio
Gustavo Rangel disse…
É verdade Gaúcho!!!bem lembrado

Postagens mais visitadas deste blog

Alzira Vargas: O parque do abandono

Carta de despedida de Leila Lopes

Celso Blues Boy: escolhi minha vida e escolho minha morte