O soneto é pior que a emenda - Juca Kfouri
"Você acredita que o Rio-2016 esteja mesmo em risco por causa do projeto do deputado Ibsen Pinheiro?
QUE A emenda do deputado gaúcho prejudica o Rio, o Espírito Santo, e até São Paulo, é fora de dúvida.
Que o pré-sal não tem nada a ver com a Olimpíada no Rio também está claro, tanto que pararam de falar disso depois que foi devidamente lembrada a antecedência da candidatura carioca em relação à descoberta de petróleo na camada. Mas o barulho que se faz em torno do assunto, de tal tamanho que nem fica bem chamá-lo de soneto, revela nossa incapacidade para produzir políticos de novo tipo.
A atuação de Sérgio Cabral Filho é patética, digna de um canastrão da pior qualidade.
O governador que não se abalou de sua mansão em Mangaratiba (avaliada em R$ 4 milhões) quando houve a tragédia de Angra dos Reis (50 mortos) na passagem do ano, porque não queria parecer, segundo ele mesmo, “demagogo”, chorou pelos royalties perdidos (R$ 7 bilhões) e convocou, com direito a ponto facultativo, os funcionários públicos a participar da manifestação “espontânea” de ontem à tarde.
Alguns desses funcionários públicos que foram espancados na greve dos professores fluminenses em setembro passado e que perguntam como pode alguém, de família de classe média, que começou sua vida como jornalista e logo ingressou na vida pública ter o padrão de vida que tem o governador.
Não satisfeito, Cabral descobriu que assim não teremos a Olimpíada na Cidade Maravilhosa, coisa para a qual o COI não deu a menor pelota, tanto que declarou oficialmente ter garantias do governo federal.
Igual papelão fez o COB, que engrossou a choradeira do governador e acenou com uma hilariante quebra de contrato.
Nada de novo, aliás, porque o mesmo Carlos Nuzman que age deste modo agora disse na semana passada que o Pan-2007 não deixou legado porque assim não exigia a Odepa, diferentemente do COI em relação à Olimpíada-2016. Não é de pasmar?!
Em bom português, estamos vendo uma escalada cujos nome são chantagem ou terrorismo.
Chantagem pura e simples, terrorismo com as perspectivas dos Jogos Olímpicos e da Copa do Mundo.
Certamente se o Senado aprovar como está a emenda de Ibsen Pinheiro, e Lula não vetá-la, o Rio perderá muito, dinheiro que fará falta para manter o alto nível de segurança pública do Estado fluminense, assim como suas boas escolas e ótimos hospitais e estradas, para não falar dos aeroportos, saneamento básico etc. Só não se sabe o que é pior: se a demagogia em curso de Cabral ou o silêncio inicial de José Serra.
Sim, porque o governador de São Paulo chegou a dizer que sabia da emenda apenas “pelos jornais”, saída tosca para não se posicionar.
Claro que não era mera omissão, tão a gosto dos políticos que não querem se comprometer.
Era mentira mesmo, porque ninguém pode acreditar que um tema de tal importância não seja acompanhado de perto pelo governador do Estado mais poderoso do Brasil e, ainda por cima, candidato à presidência da República.
E de políticos desse tipo o país está farto, ou, isto é, deveria estar, porque continua a elegê-los."
Que o pré-sal não tem nada a ver com a Olimpíada no Rio também está claro, tanto que pararam de falar disso depois que foi devidamente lembrada a antecedência da candidatura carioca em relação à descoberta de petróleo na camada. Mas o barulho que se faz em torno do assunto, de tal tamanho que nem fica bem chamá-lo de soneto, revela nossa incapacidade para produzir políticos de novo tipo.
A atuação de Sérgio Cabral Filho é patética, digna de um canastrão da pior qualidade.
O governador que não se abalou de sua mansão em Mangaratiba (avaliada em R$ 4 milhões) quando houve a tragédia de Angra dos Reis (50 mortos) na passagem do ano, porque não queria parecer, segundo ele mesmo, “demagogo”, chorou pelos royalties perdidos (R$ 7 bilhões) e convocou, com direito a ponto facultativo, os funcionários públicos a participar da manifestação “espontânea” de ontem à tarde.
Alguns desses funcionários públicos que foram espancados na greve dos professores fluminenses em setembro passado e que perguntam como pode alguém, de família de classe média, que começou sua vida como jornalista e logo ingressou na vida pública ter o padrão de vida que tem o governador.
Não satisfeito, Cabral descobriu que assim não teremos a Olimpíada na Cidade Maravilhosa, coisa para a qual o COI não deu a menor pelota, tanto que declarou oficialmente ter garantias do governo federal.
Igual papelão fez o COB, que engrossou a choradeira do governador e acenou com uma hilariante quebra de contrato.
Nada de novo, aliás, porque o mesmo Carlos Nuzman que age deste modo agora disse na semana passada que o Pan-2007 não deixou legado porque assim não exigia a Odepa, diferentemente do COI em relação à Olimpíada-2016. Não é de pasmar?!
Em bom português, estamos vendo uma escalada cujos nome são chantagem ou terrorismo.
Chantagem pura e simples, terrorismo com as perspectivas dos Jogos Olímpicos e da Copa do Mundo.
Certamente se o Senado aprovar como está a emenda de Ibsen Pinheiro, e Lula não vetá-la, o Rio perderá muito, dinheiro que fará falta para manter o alto nível de segurança pública do Estado fluminense, assim como suas boas escolas e ótimos hospitais e estradas, para não falar dos aeroportos, saneamento básico etc. Só não se sabe o que é pior: se a demagogia em curso de Cabral ou o silêncio inicial de José Serra.
Sim, porque o governador de São Paulo chegou a dizer que sabia da emenda apenas “pelos jornais”, saída tosca para não se posicionar.
Claro que não era mera omissão, tão a gosto dos políticos que não querem se comprometer.
Era mentira mesmo, porque ninguém pode acreditar que um tema de tal importância não seja acompanhado de perto pelo governador do Estado mais poderoso do Brasil e, ainda por cima, candidato à presidência da República.
E de políticos desse tipo o país está farto, ou, isto é, deveria estar, porque continua a elegê-los."
Coluna publicada na “Folha de S.Paulo” na última quinta-feira, um dia depois da manifestação no Rio de Janeiro.
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