Pra não ser Carolina...

Monet
Tenho uma amiga que diz que um grande poeta só se mostra na dor. Pois é por isso acho que, a despeito de amar poesia, não sou uma boa poetisa.

Não dou conta da dor. Não consigo escrever nada que preste quando a alma anda sangrando. Por isso a prosa (a minha procura pactos com a felicidade) me flui mais fácil.

Minha poesia é pueril, bobinha. Não encanta. Não tem dores. Tem muitas cores. Cores são prosa, têm muito de vida e pouco de poesia.

Para grandes poemas, pego carona nos mestres e mestras. Na dor de Florbela, em Pessoa, em Quintana.

A Ana é banana. Não tem o talento da poesia nas veias. Não sabe poemar sobre o cotidiano como Adélia. Sabe não.

Quem só sabe falar do amor que sente que encanta, que faz feliz fica um poeta de pé-quebrado. O amor que se foi dá belos poemas. Mas traz à tona muitas dores. Quero não.

Não quero ser Carolina. “Pela janela, oi que lindo...” tem um sol do tamanho do mundo.

Monet


“Seu pranto não vai nada ajudar

Eu já convidei para dançar

É hora, já sei, de aproveitar

Lá fora, amor, uma rosa nasceu, todo mundo sambou, uma estrela caiu

Eu bem que mostrei sorrindo. Pela janela, ói que lindo

Mas Carolina não viu”

(Chico Buarque-Carolina)

Comentários

walnize carvalho disse…
Ana,
Amei o texto.É prosa que tem musicalidade e que se torna um sutil poema.Acompanhada do Chico então...
Walnize
Ana Paula Motta disse…
Obrigada,Walnize. é prosa pra pessoas sensíveis como você.

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