"A galinhagem como opção de vida"
O texto abaixo fala sobre o comportamento dos atuais ídolos do futebol nacional e da seleção canarinho, e é do jornalista e blogueiro Aydano André Motta. Coloco alguns trechos aqui para que os amantes da bola leiam e tirem suas conclusões. Particularmente gostei muito.
" Conta o sempre bem-informado Leo Dias: os astros da seleção brasileira aproveitaram a rápida passagem pelos trópicos (estão aí, para dois jogos pelas eliminatórias) para uma festa de muita animação e pouca roupa, na casa de, adivinhe, Adriano, no condomínio Mansões na, adivinhe de novo, Barra. A maratona de saliência começou às 17h e terminou às cinco da manhã! Doze horas no ar, sem comerciais. Fôlego de atleta é isso aí.
Entre as convidadas, o travesti Patrícia Araujo e Fabiana Andrade, ex de Gugu Liberato (ele mesmo, você aí leu certo). Além de outras, muitas outras. Ao som de música eletrônica que dava para ouvir a quilômetros, nossos craques se acabaram de dançar e... você sabe. O babado, como de hábito, foi até quase o amanhecer.
Nada contra - não mesmo! Mas é um dado de comportamento que chama a atenção nas estrelas brasileiras da bola. Boleiro brazuca a-do-ra um bafafá madrugada adentro. Largar-se no mundo vez ou outra faz um bem danado - o blogueiro, aliás, tem experiência no assunto. Mas toda semana, dia sim dia não (ou também), impressiona pelo radicalismo. Os jogadores levam às últimas consequências aquela letra do Lobão ("Decadence avec elegance"), a do "é melhor viver dez anos a mil do que mil anos a dez".
Tudo bem: está longe de ser fácil o cotidiano no topo do esporte. A cobrança, a exigência física, a pressão e a notoriedade são torturas que se acentuam com o passar dos anos. É um engano comum achar que a vida nos principais times do mundo resume-se a lazer remunerado com montanhas de dinheiro. Morar num lugar estranho, ser olhado com preconceito (em muitos países e clubes, não há riqueza nem gols suficientes para soterrar a discriminação), amargar a solidão com os amigos a um oceano de distância são desafios pesados. Fazer festa ajuda a enfrentá-los, sem dúvida.
Mas transformar a galinhagem num modo de vida vira patologia - ou no mínimo, esquisitice. Rigorosamente toda vez que baixam aqui, é a mesma história - e não acaba nunca. Quer outra? Em 2007, depois da goleada de 5 a 0 sobre o Equador, no Maracanã, quase todos os jogadores reuniram-se numa boate da Praça do Lido, em Copacabana, fecharam o lugar e, acompanhados de algumas dezenas de desfrutáveis que dão expediente no lugar, esbaldaram-se até o sol raiar.
Perto de 8h (acredite), o grupo de pagode contratado para animar o bundalelê decidiu parar de tocar, com apoio do dono da casa, que queria limpar a boate para recomeçar no que já era, fazia tempo, o dia seguinte. Tomou, para isso, a atitude-padrão dos monarcas dos botequins: parou de servir bebida. Um dos craques - estrela de primeira grandeza, astro de time inglês - não se apertou. Atravessou a Nossa Senhora de Copacabana e comprou mais uma caixa de cerveja. Foi, claro, visto por centenas de mortais comuns, que, àquela hora de um dia comum, estavam a caminho do trabalho. Mas tudo bem: depois é só culpar a imprensa pela foto desagradável, da celebridade pega no pulo.
Lamentável é quando o flerte se dá não com a contravenção da profissão mais antiga do mundo, mas com o crime explícito, em especial do tráfico de drogas. Circulam pela rede mundial de computadores fotos de craques posando com fuzil na mão, apontando pistolas ou em bocas-de-fumo de algumas das mais violentas favelas cariocas. Aí não pode. O dano, aliás, inclui o exemplo, do ídolo de jovens e crianças junto e misturado (como se diz hoje em dia) com bandidos, numa glamourização hedionda.
Certamente, aparecerá um liberal do teclado para defender que a gente não tem nada com isso. O blog discorda. Astros da bola são pessoas públicas, tem vida pública - e ganham melhor também pela sua imagem. Assim, cristalizam-se alvos do interesse dos leitores, telespectadores, etc. São, numa palavra, notícia - o tempo todo. Jogo jogado.
Cada visita deles à terra onde aprenderam os mistérios de dribles, chutes e passes, é garantia de diversão. Para eles e para o distinto público. No mais, talvez seja testosterona demais, ou dinheiro demais. Ou tudo junto. Pelo menos ativa o mercado da saliência. Nessa crise, por que não?"
Nada contra - não mesmo! Mas é um dado de comportamento que chama a atenção nas estrelas brasileiras da bola. Boleiro brazuca a-do-ra um bafafá madrugada adentro. Largar-se no mundo vez ou outra faz um bem danado - o blogueiro, aliás, tem experiência no assunto. Mas toda semana, dia sim dia não (ou também), impressiona pelo radicalismo. Os jogadores levam às últimas consequências aquela letra do Lobão ("Decadence avec elegance"), a do "é melhor viver dez anos a mil do que mil anos a dez".
Tudo bem: está longe de ser fácil o cotidiano no topo do esporte. A cobrança, a exigência física, a pressão e a notoriedade são torturas que se acentuam com o passar dos anos. É um engano comum achar que a vida nos principais times do mundo resume-se a lazer remunerado com montanhas de dinheiro. Morar num lugar estranho, ser olhado com preconceito (em muitos países e clubes, não há riqueza nem gols suficientes para soterrar a discriminação), amargar a solidão com os amigos a um oceano de distância são desafios pesados. Fazer festa ajuda a enfrentá-los, sem dúvida.
Mas transformar a galinhagem num modo de vida vira patologia - ou no mínimo, esquisitice. Rigorosamente toda vez que baixam aqui, é a mesma história - e não acaba nunca. Quer outra? Em 2007, depois da goleada de 5 a 0 sobre o Equador, no Maracanã, quase todos os jogadores reuniram-se numa boate da Praça do Lido, em Copacabana, fecharam o lugar e, acompanhados de algumas dezenas de desfrutáveis que dão expediente no lugar, esbaldaram-se até o sol raiar.
Perto de 8h (acredite), o grupo de pagode contratado para animar o bundalelê decidiu parar de tocar, com apoio do dono da casa, que queria limpar a boate para recomeçar no que já era, fazia tempo, o dia seguinte. Tomou, para isso, a atitude-padrão dos monarcas dos botequins: parou de servir bebida. Um dos craques - estrela de primeira grandeza, astro de time inglês - não se apertou. Atravessou a Nossa Senhora de Copacabana e comprou mais uma caixa de cerveja. Foi, claro, visto por centenas de mortais comuns, que, àquela hora de um dia comum, estavam a caminho do trabalho. Mas tudo bem: depois é só culpar a imprensa pela foto desagradável, da celebridade pega no pulo.
Lamentável é quando o flerte se dá não com a contravenção da profissão mais antiga do mundo, mas com o crime explícito, em especial do tráfico de drogas. Circulam pela rede mundial de computadores fotos de craques posando com fuzil na mão, apontando pistolas ou em bocas-de-fumo de algumas das mais violentas favelas cariocas. Aí não pode. O dano, aliás, inclui o exemplo, do ídolo de jovens e crianças junto e misturado (como se diz hoje em dia) com bandidos, numa glamourização hedionda.
Certamente, aparecerá um liberal do teclado para defender que a gente não tem nada com isso. O blog discorda. Astros da bola são pessoas públicas, tem vida pública - e ganham melhor também pela sua imagem. Assim, cristalizam-se alvos do interesse dos leitores, telespectadores, etc. São, numa palavra, notícia - o tempo todo. Jogo jogado.
Cada visita deles à terra onde aprenderam os mistérios de dribles, chutes e passes, é garantia de diversão. Para eles e para o distinto público. No mais, talvez seja testosterona demais, ou dinheiro demais. Ou tudo junto. Pelo menos ativa o mercado da saliência. Nessa crise, por que não?"
Comentários