Crônica de sábado



Velha companheira

Walnize Carvalho

Com o início de mais um ano preparo-me para a sua despedida. E, confesso, já estou com saudades dela.
Olho-a com ares de ternura e uma certa melancolia me invade.
Vejo o seu jeito cansado, desgastado, amarrotado pelo tempo – afinal, o ano de 2011 já é passado – e ela ali, firme, guerreira, acima de tudo, velha companheira.
Sem ser volúvel (mas é necessário que assim o faça) irei substituí-la por outra. É o ciclo da vida.
Com ela, nos doze meses do ano que passou, dividi tristezas e alegrias.
Arquitetei planos.
Realizei sonhos.
Deixei em sua face sinais de lágrimas e até marcas de batom.
Impregnei-a de frases lidas, ouvidas e até criadas por mim.
Empenhei com ela (em vão) a sentença de que “não se deixe para amanhã o que pode fazer hoje”. Mas, muitas vezes, dada às circunstâncias coisas ficaram para... depois de amanhã.
Ela, compreensiva e silenciosa, sempre entendia os meus anseios.
Minhas frustrações? Passei-lhe todas.
Derramei sobre seus ombros várias emoções vividas e ela as recebia com entusiasmo.
A simbiose afetiva transcorria de forma envolvente e profunda.
Verdadeira entrega.
Como autêntica arquivista documentou tudo o que eu lhe passava sem contestação.
Agora, aqui fico a admirá-la e esquecida de mim leio em seu semblante minha história desenhada.
Revejo no tempo o meu aprendizado e constato que foi enriquecedor estar em sua companhia.
Ela está de partida. Cansada, mas com sentimento do dever cumprido, pois mais do que companheira foi minha cúmplice.
Agüentou, serenamente, confissões e desabafos...
Sendo assim...com o término de mais ano e início de outro preparo-me para despedir-me da minha AGENDA .
Uma amiga? Uma companheira? Tudo isso. Mas, acima de tudo, a reprodução de mim mesma.

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