Crônica de sábado


Assombros
Walnize Carvalho


O sol e a lua já trocavam de turno quando o ônibus seguia a estrada rumo ao Farol de São Thomé. Nele, passageiros visivelmente cansados demonstravam, em sua maioria, ter vindo do ponto de partida: Rio de Janeiro. Outros estavam atentos sinalizando ansiedade pois a viagem já estava prestes ao destino final.
A menina e o pai ( que haviam embarcado em Campos) estavam na primeira poltrona, o que propiciava uma visão ampla da paisagem lá fora. A garota - desperta e esperta – assistia no telão a natureza apresentar-se com seu show gratuito e de beleza ímpar. O pai, vez por outra bocejava, pois o dia na cidade (muito calor e correria) o deixara exausto. Lá, pelos campos da Boa Vista o silêncio reinante foi quebrado pela fala da menina recheada de assombro e admiração: _Pai, olha! Uma árvore de aves!... Antes que o pai explicasse que eram garças, ela completou com a pergunta: _As frutas desta árvore são ovinhos?... Foi a deixa para que os passageiros do ônibus tivessem reações diversas: uns sorriram; outros abriram cortinas para verificar o “fenômeno” e houve até quem fotografasse... Eu, ao meu canto senti que o fato era digno de observação e registro. O cenário bucólico onde garças em bando se abrigam nos arvoredos tendo à sua volta o gado, os verdes campos e o córrego ladeando a estrada como moldura reúne simplicidade e beleza. Cerro os olhos e me pego a pensar no estranhamento da criança e de imediato me vem à lembrança histórias que meu pai contava ouvidas por ele quando menino.Aqui reproduzo fragmentos delas que constam no seu livro “Se não me trai a memória” (Waldir Carvalho): “Lá na Baixada, contavam-se histórias fantásticas, sem dúvida inventadas por mentes supersticiosas. Uma delas falava da existência nos campos da Boa Vista de um perverso ‘boitatá’, que se apresentava em forma de tocha luminosa e seguia os cavaleiros solitários. Em certas ocasiões achava de pousar na garupa do animal deixando o caminheiro apavorado. Dizem até que tinham preferência em seguir pessoas que montavam cavalo branco. Causava até desmaios...”
Assim feito, é hora de reencontrar-me com minha crônica onde eu falava...falava mesmo de...da menina do ônibus! Ela adormece nos ombros do pai que em fila aguarda o desembarque. Confesso ter visto em suas costas um par de asas!...
Será um anjo?

Comentários

Ana Paula Motta disse…
Mandei uma foto da anjinha por mensagem para o seu celular. Beijo grande
walnize carvalho disse…
Aninha,
Como a conexão do celular nos fins de semana aqui na praia é fraca não recebi ainda.
Vale lembrar ,que publiquei esta crônica por vc ter feito referência a ela, no dia em que me veio me visitar com o filhão Pedro.
Bjs,
Wal

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