Esfria a faxina
Políticos de todas as cores estão indignados com a “faxina ética” promovida pela presidente Dilma Rousseff em parte do seu governo. Não a admitem. É suicídio! – proclamam. E debocham. Dizem, por exemplo, que a Esplanada dos Ministérios foi trocada pela Espanada nos Ministérios.
Mas, pensando bem, espantoso é que não é.
Queriam o quê? Que não estivessem nem aí? Logo eles que precisam empregar afilhados no governo para superfaturar contratos, inventar aditivos e cobrar comissões? Que dependem do dinheiro do Orçamento da União para a execução de pequenas obras em seus redutos eleitorais?
Sem elas, a reeleição ficaria pela hora da morte.
Têm mais é que chiar, sim, ora essa. De negar quórum para a votação de projetos despachados pelo governo ao Congresso. De ameaçar votar contra. De criar, enfim, toda a sorte de dificuldades para a presidente da República. Porque ao fim e ao cabo, são eles que estão ficando mal na foto. Mal, não: pior do que estavam.
Se na política o que vale é a aparência, Dilma sairá no lucro com a “faxina ética”.
A essa altura, pouco importa que ela proponha uma “faxina contra a miséria” para esfriar a outra, que tanto incômodo provoca nos partidos. Dirão os encantados com a faxina original: “Pobrezinha da Dilma, está sendo obrigada a recuar.” E sentirão pena dela.
A faxina foi uma bola dentro chutada pelos que cuidam do marketing presidencial. Prevista para desalojar meia dúzia de sujeitos do ministério dos Transportes, virou ali uma faxina em regra porque o ministro, contra a vontade da própria Dilma, preferiu dar no pé para salvar a família de sério embaraço.
Seu filho enriqueceu muito rapidamente, sabe como é...
No caso do ministro da Agricultura, foi a família dele que o aconselhou a se mandar. Se dependesse de Dilma não teria saído. O ministro caiu fora quando se revelou que pegava carona em jatinhos de uma empresa com negócios no ministério. Quis escapar de ser soterrado pela lama.
Observa com argúcia o ministro Jorge Hage, chefe da Controladoria Geral da União: “No Brasil, a demissão é a pena máxima para um político suspeito de corrupção”. Mas a demissão não é uma pena capital. Se for esperto, tiver paciência e dinheiro acumulado, o demitido de ontem pode vir a ser a prestigiada autoridade de amanhã.
Depois do escândalo do mensalão, quanta gente não imaginou que Lula perdera as condições para disputar o segundo mandato?
Ele mesmo, um dia, falou em renunciar ao cargo se o publicitário mineiro Marcos Valério, um dos cérebros do mensalão junto com Delúbio Soares, cumprisse a ameaça que andava fazendo de contar tudo o que sabia.
Lula se reelegeu e elegeu sua sucessora. Se tudo correr como planejou, daqui a quatro anos ele estará de volta à presidência. Por isso o melhor que Dilma tem a fazer é mudar de assunto e esquecer a “faxina ética”.
Se ela se vê obrigada a limpar a casa é porque a encontrou suja. E quem ocupou a casa antes dela? O povo não é tão bobo. Confira.
A O&P Brasil, instituto de pesquisas de Brasília, entrevistou mil eleitores no Distrito Federal entre os últimos dias 13 e 17. Margem de erro da pesquisa: três pontos percentuais.
Dilma surpreende positivamente. Em maio passado, 15% achavam que ela estava se saindo melhor do que esperavam. O índice subiu para 23,4%.
O instituto perguntou: “Os casos de corrupção no governo federal, recentemente divulgados pela imprensa, são frutos do que Lula deixou de herança para Dilma ou são frutos somente do próprio governo de Dilma?”
Para 51% dos entrevistados, os casos são frutos da herança deixada por Lula. Para 24,7% são frutos do governo Dilma.
Lula e Fernando Henrique Cardoso sacaram quase ao mesmo tempo as vantagens e desvantagens da “faxina ética” que Dilma jamais pensara fazer de verdade.
O PSDB de FH estende o tapete vermelho e empurra Dilma para frente. O PT de Lula segura o braço dela.
Ricardo Noblat
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