Crendices



Walnize Carvalho

Aproveitando que ainda estamos no mês de agosto(mês do folclore, vou comentar sobre crendices que permeiam nosso dia a dia. Por sua origem popular, elas também integram a sabedoria de um povo.
Curioso, que dia desses, enquanto aguardava na fila da padaria o momento de pagar os pães passei, distraidamente, os olhos sobre as cédulas que estavam em minhas mãos. Reparei que em uma delas (de dois reais) continha a seguinte mensagem: “Quem pegar esta nota terá muito dinheiro. Com fé escreva em três notas. Acredite e não quebre esta corrente”. Paguei o lanche da tarde e, sorrindo, saí pensando: - Quebrei a corrente e deixei de ficar rica!...
Uma certa manhã, caminhava no Boulevard, quando cruzei por ciganas, cheias de correntes douradas, abordando os transeuntes. Uns, lhes davam atenção, estendiam suas mãos para que elas fizessem a leitura, do que o destino lhes havia reservado. Outros, como eu, davam de ombros e seguiam seu destino, quer dizer, seu caminho.
Voltei para casa a fim de escrever sobre isso. Recostei-me no sofá e cerrando os olhos, recordei das crenças populares que eram passadas em meu tempo de infância. Sorri, melancólica, ao lembrar o que se ouvia dos adultos: “Não passe embaixo de escada, dá azar”; “Não deixe o calçado virado, a mãe morre”; “Não negue algo à mulher grávida, nasce terçol”; “Não coma casca de queijo, fica mentiroso”; “Não aponte estrelas, nasce verruga na ponta do dedo”; “Cuidado ao cruzar com gato preto”...
E mais... Se ouvíssemos galo cantando era sinal de tristeza; se víssemos urubus no céu era prenúncio de agouro. Eram tantas crendices que provocavam em nós – inocentes criaturas – um misto de credulidade, medo, inquietação e angústia.
Por outro lado, havia também “ensinamentos” que nos levavam a acreditar em coisas alvissareiras, como: “desenhar o sol no chão para que ele aparecesse, após dias chuvosos”; “fazer aparecer objetos perdidos com a cantilena: Meu São Longuinho, se eu achar dou três pulinhos”... Junto a isso, as falas musicadas: “Chuva e sol, casamento de espanhol” e “Sol e chuva, casamento de viúva” indicavam que alguém da vizinhança subiria ao altar...
Tudo isso preenchia nossa meninice de alegria, otimismo, candura e doce certeza.
Levantei-me. Dirigi -me ao computador e escrevi esta singela crônica.
Acredito ter provocado alguma lembrança, algum sorriso, ou, na pior das hipóteses, ter sido um passatempo neste domingo de inverno.
Ah!...e antes que eu esqueça! Faltam poucos dias para acabar “agosto - o mês do desgosto”!... para alegria dos supersticiosos e desdém dos que assim se expressam: - Isso não passa de crendice!...

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