Lembrei-me dessa...


O segredo de Ritinha

Walnize Carvalho

Passou por mim distraída. Nem o “bom dia “ costumeiro me dirigiu.Seguiu até à sala dos professores e lá ficou olhando as crianças no pátio. Olhar perdido. Distante.
Saiu do seu posto de observação e veio até a Secretaria onde eu estava. E, numa mistura de ansiedade e euforia perguntou-me já respondendo: - Nem te dei bom dia hoje!?! E emendou : - E que ...perto das eleições fico assim!...
E, eu: - na expectativa? E ela: - É! - Sim!- Não! –Sabe (falou aos borbotões) vou lhe contar um segredo que carrego há anos! E eu,tentando quebrar o clima de suspense: -vai anular o voto?
Ela olhou-me fixamente e fez a revelação: - Sabe, amiga! Fui criada no interior. Meu pai, na lavoura; minha mãe, dona de casa..A duras penas consegui me formar em professora.
Durante a semana fico aqui na cidade na casa de uma tia e nos fins de semana passo na casa dos meus pais.
-Sim! respondi, prestando atenção ao que ela falava.
-Meus pais moram em casa que os usineiros cedem para seus empregados. Sendo que o patrão neste período vai nas residências e “sugestiona” o candidato a ser votado.
E...(suspira aliviada) eu nunca participo dessa conversa, o que é bom, porque demonstraria minha insatisfação e deixaria meus pais em situação difícil.. Além do mais, trago colado dentro do meu guarda roupa o retrato do meu candidato.No dia da eleição preparo a “colinha” para “os velhos” e seguimos em frente!...
E arrematou : Dia de eleição é o dia que sinto a verdadeira LIBERDADE !

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