"Respeito é bom e todos gostam"

Temos amigos portugueses que visitam nosso blog, entre eles, o blogueiro e escritor Luis Bento. Em razão do carinho e respeito com os irmãos de além-mar, e já que o assunto causou muito rebuliço semana passada decidimos colocar aqui no Sociedade, a opinião do jornalista Daniel Escobar que mora em Lisboa onde mantém o blog Comboio Lisboa (www.comboiolisboa.com) em parceria com a jornalista Ieda Barros. O texto pegamos "emprestado" do Blog do Noblat.
"Na semana passada um vídeo em que a atriz Maitê Proença faz piada com os portugueses e com lugares de Portugal causou polêmica.
Eu tinha prometido para mim mesmo que não tocaria nesse assunto por acreditar que ele já tinha rendido mais do que deveria.
No entanto, por continuar gerando comentários aqui em Portugal e pelo fato de algumas observações serem altamente agressivas, resolvi abordar a questão para falar sobre algo que está muito presente no dia-a-dia: o preconceito entre brasileiros e portugueses.
O vídeo da Maitê, para quem não viu, foi gravado durante uma visita da atriz a Portugal e usado em um programa da TV brasileira.
Nele ela diz um bocado de bobagens, comete erros de história e geografia. Por fim cospe em uma fonte de um monumento nacional.
As imagens chegam a ser constrangedoras. Como disse uma amiga minha daqui, parecia uma menina de 13 anos em sua primeira viagem à Europa.
No máximo, uma tremenda falta de respeito na casa dos outros. Mas nada que pudesse ser classificado como um incidente diplomático.
O episódio, entretanto, foi suficiente para criar uma oportunidade àqueles que têm o preconceito escondido no bolso, pronto para sacá-lo.
Mesmo que de forma anônima. Basta dar uma conferida nos comentários que seguiram ao vídeo. São coisas impublicáveis e difíceis de acreditar que ainda existam.
É incrível ver como há tantas similaridades entre brasileiros e portugueses e constatar que são elas também que nos distanciam.
A própria afirmação de Maitê Proença no vídeo em que pede desculpas é utilizada por brasileiros por aqui com frequência para destilar o preconceito. Ela disse sentir-se muito portuguesa porque o seu avô era português.
Muitos brasileiros evocam o direito de dizer as maiores bobagens valendo-se da dupla nacionalidade.
E quando eu digo bobagens eu refiro-me às generalizações que caracterizam o pensamento preconceituoso; pecado este que os portugueses também incorrem com frequência.
Uma das maiores vítimas do preconceito aqui em Portugal é a mulher brasileira, que se não é vista como prostituta, em geral leva a pecha de oportunista ou aproveitadora.
Em tempos de “paz”, a generalização pode ser sentida até em comentários supostamente inocentes.
É óbvio que existem muitas mulheres que deixam o Brasil para prostituírem-se. Mas a generalização ofende as milhares de brasileiras que imigram para cá e trabalham honestamente.
Não sou historiador, mas não é difícil concluir que a independência do Brasil, ocorrida há 187 anos (quem em termos de linha do tempo pode ser encarado como ontem) tenha deixado marcas que são sentidas ainda tanto por brasileiros quanto portugueses.
Há muitos outros fatores: o fato dos brasileiros serem a maior comunidade imigrante por aqui; a própria emigração portuguesa para o Brasil ao longo dos séculos IX e XX e até uma certa competitividade entre brasileiros e portugueses.
A minha esperança, como alguém que ama os dois países e os encara como nações irmãs, é que o tempo se encarregue de varrer este veneno que é o preconceito para bem longe de nós.
E por favor: respeito é algo que todos apreciam, independente da nacionalidade."

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