As dificuldades de convivência com os adolescentes de hoje


Normalmente, nós aqui do Sociedade, tiramos o fim de semana para postarmos coisas mais leves, como músicas, poesias, piadas. Mas há um bom tempo quero trazer para o debate aqui no blog, um assunto que tem tomado muito do meu tempo e trazido alguns aborrecimentos. Não sou pai, porém convivo com um sobrinho de 16 anos que amo como se filho fosse. É um garoto muito bacana, saudável e amigo, porém ao mesmo tempo, de uma convivência bastante complicada.Passou por momentos difíceis em sua vida, como a perda do pai (meu irmão), quando tinha 7 anos, e alguns outros dissabores. Entretanto, ainda não consigo entender o motivo de um comportamento tão rude em várias situações. O desrespeito no tratamento com os mais velhos, as ironias, o linguajar....Vocês podem até dizer que isto é normal, mas aqueles que já passaram pela "aborrecência" sabe bem do que falo. Fico um pouco assustado ao ver essa molecada de hoje em dia, viciada em internet, video game e alguns valores bem diferentes que o pessoal da minha geração, que no fim das contas, ironicamente, são os atuais pais. Logicamente não se pode generalizar, mas convivendo com meu sobrinho, seus amigos, meus amigos, lendo os mais variados noticiários e conhecendo alguns casos no Juizado da Infância e do Adolescente, acho que é preciso ligar o sinal de alerta. Hoje minha mãe recebeu um e-mail que muito me interessou. Tentei até fazer um exercício de comparação com a minha adolescência, mas decididamente o mundo é outro. Trata-se de um trecho de palestra ministrada pelo médico psiquiatra Dr. Içami Tiba, em Curitiba, no dia 23 de julho de 2008. O palestrante é membro eleito do Board of Directors of the International Association of Group Psychotherapy e professor de cursos e workshops no Brasil e no Exterior. Em pesquisa realizada em março de 2004, pelo IBOPE, entre os psicólogos do Conselho Federal de Psicologia, os entrevistados colocaram o Dr. Içami Tiba como terceiro autor de referência e admiração - o primeiro nacional, só atrás de Sigmund Freud e Gustav Jung. Pode ser um pouquinho longo, mas para aqueles que passam por momentos parecidos com os meus, fica a dica. Depois que o li, entendi um pouco do comportamento do meu sobrinho, que mesmo tendo sempre recebido muito amor, carinho e atenção, não recebeu a educação e disciplina que estão faltando hoje. Alguns de seus conselhos:


1. A educação não pode ser delegada à escola. Aluno é transitório. Filho é para sempre.


2. O quarto não é lugar para fazer criança cumprir castigo. Não se pode castigar com internet, som, tv, etc...


3. Educar significa punir as condutas derivadas de um comportamento errôneo. Queimou índio pataxó, a pena (condenação judicial) deve ser passa-la em hospital de queimados.


4. É preciso confrontar o que o filho conta com a verdade real. Se falar que professor o xingou, tem que ir até a escola e ouvir o outro lado, além das testemunhas.


5. Informação é diferente de conhecimento. O ato de conhecer vem após o ato de ser informado de alguma coisa. Não são todos que conhecem. Conhecer camisinha e não usar significa que não se tem o conhecimento da prevenção que a camisinha proporciona.


6. A autoridade deve ser compartilhada entre os pais. Ambos devem mandar. Não podem sucumbir aos desejos da criança. Criança não quer comer? A mãe não pode alimentá-la. A criança deve aguardar até a próxima refeição que a família fará. A criança não pode alterar as regras da casa. A mãe NÃO PODE interferir nas regras ditadas pelo pai (e nas punições também) e vice-versa. Se o pai determinar que não haverá um passeio, a mãe não pode interferir. Tem que respeitar sob pena de criar um delinquente.


7. Em casa que tem comida, criança não morre de fome . Se ela quiser comer, saberá a hora. E é o adulto quem tem que dizer QUAL É A HORA de se comer e o que comer.


8. A criança deve ser capaz de explicar aos pais a matéria que estudou e na qual será testada. Não pode simplesmente repetir, decorado. Tem que entender.


9. É preciso transmitir aos filhos a idéia de que temos de produzir o máximo que podemos. Isto porque na vida não podemos aceitar a média exigida pelo colégio: não podemos dar 70% de nós, ou seja, não podemos tirar 7,0.


10. As drogas e a gravidez indesejada estão em alta porque os adolescentes estão em busca de prazer. E o prazer é inconsequente.


11. A gravidez é um sucesso biológico e um fracasso sob o ponto de vista sexual.


12. Maconha não produz efeito só quando é utilizada. Quem está são, mas é dependente, agride a mãe para poder sair de casa, para fazer uso da droga . A mãe deve, então, virar as costas e não aceitar as agressões. Não pode ficar discutindo e tentando dissuadi-lo da idéia. Tem que dizer que não conversará com ele e pronto. Deve 'abandoná-lo'.


13. A mãe é incompetente para 'abandonar' o filho. Se soubesse fazê-lo, o filho a respeitaria. Como sabe que a mãe está sempre ali, não a respeita.


14. Se o pai ficar nervoso porque o filho aprontou alguma coisa, não deve alterar a voz. Deve dizer que está nervoso e, por isso, não quer discussão até ficar calmo. A calmaria, deve o pai dizer, virá em 2, 3, 4 dias. Enquanto isso, o videogame, as saídas, a balada, ficarão suspensas, até ele se acalmar e aplicar o devido castigo.


15. Se o filho não aprendeu ganhando, tem que aprender perdendo.


16. Não pode prometer presente pelo sucesso que é sua obrigação. Tirar nota boa é obrigação. Não xingar avós é obrigação. Ser polido é obrigação. Passar no vestibular é obrigação. Se ganhou o carro após o vestibular, ele o perderá se for mal na faculdade.


17. Quem educa filho é pai e mãe. Avós não podem interferir na educação do neto, de maneira alguma. Jamais. Não é cabível palpite.. Nunca.


18. Muitas mães, famílias, crianças são desequilibradas ou mesmo loucas. Devem ser tratadas.

19. Se a mãe engolir sapos do filho, ele pensará que a sociedade terá que engolir também.


20. Videogames são um perigo: os pais têm que explicar como é a realidade, mostrar que na vida real não existem 'vidas', e sim uma única vida. Não dá para morrer e reencarnar. Não dá para apostar tudo, apertar o botão e zerar a dívida.


21. Professor tem que ser líder. Inspirar liderança. Não pode apenas bater cartão.


22. Pais e mães não podem se valer do filho por uma inabilidade que eles tenham. 'Filho, digite isso aqui pra mim porque não sei lidar com o computador'. Pais têm que saber usar o Skype, pois no mundo em que a ligação é gratuita pelo Skype, é inconcebível pagarem para falar com o filho que mora longe.


23. O erro mais frequente na educação do filho é colocá-lo no topo da casa. O filho não pode ser a razão de viver de um casal. O filho é um dos elementos. O casal tem que deixá-lo, no máximo, no mesmo nível que eles. A sociedade paga o preço quando alguém é educado achando-se o centro do universo.


24. Filhos drogados são aqueles que sempre estiveram no topo da família.


25. Cair na conversa do filho é criar um marginal. Filho não pode dar palpite em coisa de adulto. Se ele quiser opinar sobre qual deve ser a geladeira, terá que mostrar qual é o consumo (KWh) da que ele indicar. Se quiser dizer como deve ser a nova casa, tem que dizer quanto isso (seus supostos luxos) incrementará o gasto final.


26. Dinheiro 'a rodo' para o filho é prejudicial. Mesmo que os pais o tenham, precisam controlar e ensinar a gastar.



Frase: "A mãe (ou o pai!) que leva o filho para a igreja, não vai buscá-lo na cadeia..."

Comentários

xacal disse…
como em toda lista, há coisas bem sacadas, e outras imbecilidades, mas o saldo é bom...tem boas dicas...

felizmente, não há receitas prontas...
Marcelo Bessa disse…
Amigo Neto:
com meu filho (7 anos e 5 meses) faço uma coisa simples: converso e explico o máximo que posso sobre os mais variados assuntos.
Exemplos:
- aos três anos ele aprendeu a usar garfo e faca;
- desde os seis manuseia o dicionário;
- neste ano ensinei que não podemos nos levantar da mesa enquanto as visitas ainda estão almoçando;
- uso o videogame (eu seleciono os jogos, claro) para ensinar as regras de esportes como futebol, basquete, tênis etc;
- dia desses eu lembrei-lhe que desde que o mundo é mundo os pais mandam e as crianças obedecem e que não pretendo que isso mude;
- fui à escola dele e disse à professora: dentro de sala é você quem manda e acabou... se ele merecer ficar de castigo, que fique, porque ele não é melhor do que ninguém (é melhor para mim, como os outros são para seus pais, mas vivemos em sociedade e é melhor ele aprender isso agora do que aos 20 anos!).
Antes que algum "ólogo" veja maldade onde não existe, lembro que em nenhum desses momentos eu o ataquei, ofendi, menosprezei ou o coisa que o valha: eu ensinei. Deus fez dele meu filho para que eu assumisse essa responsabilidade: eu assumo. Acerto sempre? Não sei, mas não me omito.
Dia desses vi uma criança se jogando no chão do shoppping Avenida 28, gritando, chorando e dizendo "eu quero!", sendo arrastada pela mãe. Um absurdo, enfim.
Falei: "filho, quer saber o que você precisa fazer para eu NÃO te dar alguma coisa?" Aí mostrei aquela cena ridícula, com os pais da criança reféns dela (a culpa é deles, não dela).
Disse: "se fizer isso já sabe qual é a resposta, né, filho?" Ele entendeu perfeitamente: não briguei, não bati, não gritei.
Ensino a honrar pai e mãe acima de qualquer coisa neste mundo e dou a ele o exemplo: ele vê o respeito que tenho por meu velho pai - o mesmo que sempre nutri por minha falecida mãe.
E todos os dias em que ele está comigo (mora com a mãe) eu olho nos olhos dele e digo: "FILHO, EU TE AMO."
Como consequência de coisas assim, nunca precisei dar um puxão de orelhas sequer no menino e só recebo elogios pela educação dele.
Bem, eu penso que uma criança deve ser educada assim: com amor e com limite.
Gosto de você de graça, amigo. Parabéns pela postagem!
Minerva Pop disse…
A educação é a base de tudo...o RESTO é "balela"....
Queria justamente promover o debate sobre o assunto. Não concordo com todas as dicas, mas realmente há coisas bem bacanas. Agradeço aos amigos por deixarem suas opiniões.
Parabéns Bessa!! É um orgulho ser seu amigo há 20 anos!!!
Eu precisava saber se só eu passo por essa situação ou não.
Forte abraço a todos!
Gustavo Rangel disse…
Tô com Xacal. Cada caso é um caso, mas o saldo é bom. Criar um filho não é como uma receita de bolo.

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