Carnaval...carnavais


Walnize Carvalho


Ainda que, como tenho dito, não vá atrás do trio elétrico (nada contra quem vá) e sendo hoje início de mais um Carnaval, sei que esta máquina arrastadora de multidões é quem proporciona a alegria dos foliões em vários recantos do país.
Hoje é sábado de carnaval. Com ou sem fantasia; animado ou indiferente, não há como deixar de saber notícias dele...
Em tempo de boas lembranças me vêm à mente outros carnavais: os que vivi e os que ouvi contar... Tempo de corso nas ruas, fantasias, blocos, cordões, clubes sociais apinhados de pessoas descontraídas e felizes. (será que alguém se lembra – como eu - da expressão “tríduo momesco”?)
Na boca de todos, em qualquer canto da cidade (nos clubes ou nas ruas) as marchas-rancho se tornavam hino. Havia no ar uma expectativa com a chegada do carnaval desde a compra de fantasias a ingressos para os bailes nos clubes, como também gerava ansiedade poder ir às ruas ver ou participar dos desfiles populares.
Num arrebatamento de saudade, fui atrás de outros carnavais e faço nesta crônica, o registro: Final dos anos sessenta. A lembrança salta aos meus olhos como aquele mascarado a fazer piruetas nos salões do clube praiano.
Volto no tempo. Domingo de carnaval. Na véspera já havíamos ido (eu, irmãs e primas) ao primeiro baile dos sete que compunham as folias de Momo.
Dezesseis horas. Nossa juventude saltitava de sonhos e fantasias.
Começávamos a nos enfeitar para a matinê ( íamos a fim de marcar presença e voltar para um breve descanso, pois a alegria maior era brincar os bailes noturnos, que começavam lá pelas 21 horas). Saíamos pouco mais da meia-noite (embora soubéssemos que terminavam mais tarde um pouco).
Nossos pais compravam mesa de pista e ao primeiro gesto de um deles (papai ficava de pé) era sinal de que estava na hora de irmos para casa.
Mesmo assim, retornávamos felizes e cheias de novidades. Papos entrecortados de sussurros e risos varavam a noite.
A recordação de fatos passados conserva na memória e aflora no presente com nitidez perfeita.
Revejo a orquestra e o toque das marchinhas carnavalescas. A cada ano , com tempo de antecedência aprendíamos as músicas que seriam tocadas e cantadas a exaustão.Exaustão? E quem demonstrava cansaço, ainda que ele se fizesse presente?
Quantas gerações conhecem e cantam até os nossos dias: “Bandeira branca”, “Jardineira”, “Cabeleira do Zezé”, “Colombina”, “Mamãe eu quero” e tantos outros sucessos!
Blocos fantasiados. Palhaços. Odaliscas. Sheiks. Índios (havia espaço para todas as “tribos”). Vez por outra um caricato usava fantasia inusitada.
Namorados usavam roupas idênticas; rapazes com trajes de marinheiro e moças de sarongues coloridos...
Colares. Lanças-perfume. Rum com coca-cola. Uísque com guaraná. Alegria. Descontração. Tudo girava em torno da alegria garantida nos “três dias de folia”.
E quando estes chegavam... não havia quem não fizesse valer os versos da canção: “Deixei a tristeza lá fora/ mandei a saudade esperar/ hoje eu não quero sofrer/ quem quiser que sofra em meu lugar”.
Minha cabeça gira. Lá fora, a espiar do alto por entre as casuarinas, o Farol com seus raios ora a iluminar o mar, ora a guiar os foliões na Terra.
Registro saudoso de uma época.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Alzira Vargas: O parque do abandono

Carta de despedida de Leila Lopes