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Há futuro para as grandes feiras de livros?

Sylvia Colombo
Folha.com/Ilustrada
22/11/2011 -
07h00

É um consenso que grandes feiras de livros já não são mais tão influentes nos negócios do mercado editorial nos dias de hoje. Com as distâncias encurtadas pela internet, uma reunião internacional de editores já não é mais tão fundamental para concluir contratos de compra e venda de títulos.
Ainda assim, algumas reuniões seguem marcando o calendário do universo dos livros, como a Feira de Frankfurt, na Alemanha, principal evento global da área, e a Feria Internacional del Libro de Guadalajara, o maior encontro do mundo das letras em espanhol, que acontece há 25 anos na cidade mexicana. Ambas se mantém pois servem de vitrine para novidades, promovem encontros de pesos-pesados e atraem a imprensa especializada.
A edição deste ano da festa mexicana acontece a partir de sábado e vai até 4 de dezembro. Os números do evento seguem sendo gigantescos. A 25ª edição da FIL reunirá 45 países, mais de 17 mil profissionais do livro, quase 200 agentes literários e será coberta por 490 veículos, através de 1.700 jornalistas.
O formato da feira mistura a grandiosidade de eventos como as bienais do livro brasileiras, num grande pavilhão de eventos em que as principais editoras que publicam em espanhol estão representadas. É visitada por grupos volumosos de estudantes e público em geral.
Porém, não resume-se a isso. A FIL tem uma programação artística tão bem cuidada quanto a de festivais literários como os de Hay-on-Wye ou a própria Flip (Festa Literária Internacional de Paraty). Prêmios Nobel dividem espaço com escritores comerciais, alternativos e estreantes.
Nos últimos anos, passaram por lá o turco Orhan Pamuk, o francês Le Clézio, o mexicano Carlos Fuentes, o anglo-indiano Salman Rushdie e o português José Saramago (já morto), entre outros.
Em 2003, o evento viu um encontro histórico quando o brasileiro Rubem Fonseca recebeu o prêmio Juan Rulfo das mãos do colombiano Gabriel García Márquez. Ambos, como se sabe, avessos a aparecer em público, concordaram em fazê-lo no tradicional festival mexicano.
Neste ano, a mesa de abertura terá um debate entre dois prêmios Nobel, o peruano Mario Vargas Llosa e a romena-alemã Herta Müller.
Além deles, entre os destaques estão o chileno Antonio Skármeta, o espanhol Fernando Savater e o colombiano Fernando Vallejo.
O Brasil, apesar de ter sido país homenageado em 2001, tem participação discreta. Poucas editoras mandam representantes e, entre os autores convidados, neste ano, figura apenas o nome de Luiz Ruffato.
É uma pena, ainda mais porque Guadalajara é uma cidade que idolatra o Brasil, por conta das passagens da seleção por ali nas Copas do Mundo de 1970 (em que foi vitoriosa) e 1986. Em enquete informal realizada nas minhas últimas visitas, Rubem Fonseca é um dos escritores mais cultuados entre editores e autores locais.
Destoando do clima de festa, em texto publicado na última sexta-feira no jornal argentino "La Nación", o colombiano Fernando Vallejo, sempre mordaz e incômodo, disse que uma das coisas que está acabando com os encontros literários é a discussão sobre o futuro do livro por conta da chegada dos e-books, que virou realmente uma tendência global desses eventos.
Vallejo, que será homenageado na FIL, diz que discutir o futuro do livro é inútil "se o que não tem futuro é a própria humanidade".
É certo que o modelo de grandes feiras está desgastado. Para os editores, já não é tão necessário viajar para comprar livros. Para o público, não é fácil encontrar nesses shopping centers apinhados de gente novidades que realmente interessem a diferentes públicos.
Mesmo o formato de mesas em que autores leem trechos de obras e depois conversam com o público também merecia ser revisto, pois nem todos têm a desenvoltura ou o talento para entreter plateias.
Seria interessante se Guadalajara aproveitasse esta edição comemorativa para refletir sobre isso e propor mudanças no formato que se multiplica pelo mundo.
Ganharia mais se deixasse a "moda" de discutir o futuro do livro e se concentrasse a projetar autores. Isto tradicionalmente faz muito bem, aproveitando o fato de ser uma oportunidade quase única de editores conhecerem autores de países que falam a mesma língua, mas cuja obra viaja pouco.
PS: Se não houver contratempos, esta coluna será escrita de Guadalajara na próxima semana. A jornalista viaja a convite do evento.

Sylvia Colombo, 39, está na Folha desde 1993 e já foi repórter, editora do Folhateen e Ilustrada e correspondente do jornal em Londres. É formada em jornalismo e história.

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