Bullying religioso!

Téta Barbosa é jornalista, publicitária e mora no Recife.

Moro num condomínio com 62 casas. Para manter a ordem e o sossego, o síndico é do tipo chato e a convenção com as regras para a boa convivência entre vizinhos tem nada menos que 282 páginas.
Vivemos obedientes e relativamente felizes.
É o preço que se paga por viver em sociedade.
Das 62 famílias que residem neste agradável lugar, apenas uma desobedece sistematicamente a lei de ordem e progresso instaurada pela nossa pequena comunidade.
Não, não é minha família.
Apesar de ser meio rebelde e de ter filho adolescente roqueiro, sou do tipo que acho que regras são para serem seguidas já que, teoricamente, objetivam o bem e felicidade geral da nação.
A família “desordeira” em questão pertence a um pastor da Igreja Universal do Reino de Deus que insiste em realizar, dentro da casa dele (ou seja, dentro do meu condomínio r-e-s-i-d-e-n-c-i-a-l) , cultos aos domingos.
Não, não é permitido.
Mas, como ele colou um adesivo no carro que diz “foi Deus que me deu”, acredito que Deus também deve ter dado ao cidadão o privilégio de convidar mais de 100 fieis nos domingos e realizar o culto, que dura quase duas horas, em ALTO e bom som.
O pastor paga multa todo santo mês, mas não se importa. Podem processar, ele diz.
O moço é dono do mundo. Ou filho dele, como afirmam os adesivos nos carros dos fieis.
Como divido minha felicidade e minhas desgraças com os amigos, descobri que não sou a única que sofre bullying religioso.
Vários colegas que moram perto, quase perto, e até mesmo longe de templos da igreja em questão, passam pela mesma via crucis dominical.
Aí, vejam como é a vida, hoje nosso prefeito desaparecido , apareceu para apresentar um projeto de lei que promete “facilitar” as coisas para os homens de fé. Ele sugere aumentar o limite de sonoridade dos recintos religiosos estipulado por lei.
Não, vocês não leram errado, a palavra é AUMENTAR mesmo. Agora, os fieis não precisam manter seus cultos entre 50 e 65 decibéis. Podem fazer até 70 decibéis de barulho.
Não entendo porra nenhuma de decibéis, mas entendi a parte que diz “agora pode ser MAIS alto”.
Oi?
Tudo bem que o prefeito está desesperado por apoios em véspera de ano eleitoral e até soltou um “espero que a compensação seja boa” (afinal 30% dos eleitores são evangélicos), mas alguém tem que avisar que, além de desesperado, ele está louco.
Além de bullying religioso, vou sofrer bullying político?
* Prometi a mim mesmo que não ia fazer outro texto falando mal do prefeito. Mas ele não me deixou escolha!

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