E sobre a parceria...

...entrevista com Zeca Baleiro:
(5/2/2007)

Como foi a sua aproximação com Hilda Hilst?

Quando lancei meu primeiro disco, enviei um exemplar a Hilda. Semanas depois ela me ligou e me convidou a compor com ela, foi surpreendente. Claro que topei. Quando ela me ligou, ela leu um poema curto, de três versos, e pediu pra eu musicar já, ali mesmo. Depois mandou um disquete com toda a sua produção poética e disse: “faça o que você quiser”. Então eu tive o insight de fazer o disco.

Você é um compositor que transita com desenvoltura por diversos gêneros e estilos musicais. Qual foi a maior dificuldade de musicar os poemas?

O trabalho foi difícil porque os poemas não tinham uma métrica de canção, versos ritmados. São versos muito livres e muito densos, não poderia musicar como canções pop, iria ficar inadequado. Tinha que achar um caminho que fosse coerente, por isso embarquei no clima medieval dos poemas, enaltecendo o lirismo dos poemas e a interpretação das cantoras.

Você disse que recebeu um disquete com toda a obra poética de Hilda. Por que escolheu justamente Ode Descontínua e Remota para Flauta e Oboé, do livro Júbilo, Memória, Noviciado da Paixão?

Não sei se escolhi ou se fui escolhido. Quando me dei conta, já estava musicando esses poemas. É curioso, mas não foi uma escolha racional de fato.

Então ela chegou a conhecer essas canções?

Sim, ouviu, aprovou, corrigiu a métrica de uns dois versos lá. Ela gostava de cantarolar a Canção X, dizia ser a sua preferida.

Tinha alguma canção sua que ela gostava especialmente?

Ela dizia adorar Bandeira e Heavy Metal do Senhor.

Quando ela ouviu as canções pensou em alguma cantora para interpretá-las? Sugeriu algum nome?

Sugeriu Bethânia e Gal. Bethânia gravou, mas a Gal estava em Nova York nessa altura, envolvida com outros projetos, e não pôde participar.

Parece que sua decisão de fazer Ode Descontínua e Remota para Flauta e Oboé reforça a afirmação de que você é um poeta pós-moderno, multifacetado, difícil de ser rotulado ou definido por uma das infindáveis prateleiras nas lojas de CDs. O que pensa de tudo isso?

Bom, estaria mentindo se dissesse que não fico envaidecido com isso, que considero o maior elogio que um artista possa receber – “difícil de ser rotulado”. Já disse alguém que “se você não pode esclarecer, então confunda!”.

O disco tem uma sonoridade medieval, com instrumentos como harpa, oboé e fagote ajudando a criar o clima que lembra o trabalho de grandes trovadores. Qual sua aposta na obra, falando do ponto de vista comercial?

Não tenho expectativas comerciais com o disco, falando muito francamente. Sei o lugar de cada coisa, e este trabalho não aspira a êxitos comerciais. Mas, pela recepção da crítica, e do público especialmente, ele já é um sucesso.

Um dos grandes chamarizes do disco é o fato de você contar com a adesão de grandes nomes da música nacional. Como foi o convite para essas estrelas gravarem os poemas de Hilda?

Fui chamando conforme a canção me sugeria determinado timbre ou jeito de cantar. Acho que fui feliz nas escolhas. E todas se mostraram bem contentes por participar do projeto."
Do: www.overmundo.com.br/

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