O mito Maradona e os anjos da morte

Ninguém como Maradona é capaz de galvanizar para si mesmo o imaginário coletivo do argentino em geral. Para o bem e o mal, diga-se de passagem.

Após um péssimo trabalho de seu antecessor, Maradona foi chamado ao cargo de treinador da seleção nacional argentina. Não teve um bom início, classificando a Argentina na bacia das almas e sendo masacrado pela midia argentina em geral.

Após alguns razoáveis amistosos contra o Canadá, Haiti e a França, ou seja contra ninguém, a equipe parecia mais organizada e mostrava sinais de recuperação.

Veio então a primeira fase da Copa do Mundo onde a equipe, como o Brasil, enfrentou adversários fracos, e as vitórias com o vistoso toque de bola do ataque mascararam a fragilidade e a desogarnização do meio de campo e da defesa.

Aí entra o mito. Acompanhando vários meios de comunicação argentinos como o La Nación, o site ESPN Deportes e o indefectível diário Olé, percebi que eles foram pouco à pouco se dobrando ao mito, se curvando às falsas evidências e criando uma atmosfera favorável ao "já ganhou".

Bem, então chega o primeiro desafio de verdade, à vera, contra a Alemanha e sua poderosa camisa.

Vestidos todos de negro, como anjos da morte, os aplicados alemães com seu jogo cerebral destruíram cirurgicamente a Argentina, explorando suas debilidades e certamente a crença argentina na vitória que só os leigos e desavidados acreditavam possível.

Tendo no comando um técnico de verdade, não uma improvisação oportunista, os alemães como um experiente boxeador foram minando seu adversário, golpe a golpe, minuto a minuto. As substituições do técnico Joachim Löw mostraram que a Alemanha não queria apenas ganhar o jogo, mas destruir seu rival, como bem analisou o Mauro Cesar Pereira da ESPN Brasil.

Na vida real, o mito se sobrepõe ao real, não deixando muita margem para o racional.

A queda nestes casos costuma ser feia.

Neste caso, literalmente de quatro.

Comentários

Não sou analista de literatura, mas à medida em que eu ia lendo este texto eu tinha certeza de que o texto era do kezen. O texto me ia fazendo a cada minuto, descobrir que apesar de eu não ser analista de literatura tinha certeza de que era do kezen. E não via a hora de ver o final para saber se batia com minha análise...
Não deu outra!
Lindo texto e muito bem analisado.
Era do Kezen. Claudio kezen,
Parabéns. Admiro sua escrita! Não chego nem aos pés, mas como cada um tem seu jeito e "falta de jeito..." ( minha escrita....srs)que pelo menos não deixemos de dar conta do recado, né?

Um abraço,
Rosângela

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