"Faltou Didi no Kaká" por Tonico Pereira

Esta tarde, ao ler “O Globo”, me deparei com o texto abaixo escrito pelo ator campista Tonico Pereira, O ator fala da seleção do anão, mas lembra também, já no título inclusive, do eterno craque e também campista Didi.
Falando em seleção, não posso ficar quieto depois de ver algumas partes ( ver tudo seria tortura demais) da entrevista feita pelos seus amigos da Globo e da Sportv com Don Ricardo Teixeira ontem foi de uma canalhice sem tamanho. O nome do programa já combina muito bem com a palhaçada toda: “Bem, amigos”. Um teatro só!
Se existe um responsável pela existência do anão como técnico, este alguém é o Sr. Teixeira. Já há mais de 20 anos comandando o futebol brasileiro, envolveu-se em várias situações suspeitas (para dizer o mínimo), mas sempre conseguiu escapar. Nesta Copa mesmo, tentou dar exclusividade à Globo e à Sportv em algumas situações, mas incrivelmente não conseguiu. Agora aparece com sua cara de pau característica propondo um novo “projeto” para a seleção. Quer sair por cima, criticando o Dunga, mas é a pessoa menos indicada para fazê-lo. Como tem o maior meio de comunicação do Brasil ao seu lado, alguns irão acreditar. Não faço parte dessa turma.
Bom, deixemos isso de lado e vamos ao texto do Tonico.
"FALTOU DIDI NO KAKÁ
Havia um tempo em que o povo brasileiro viabilizava a sua sobrevivência agarrando-se como afogado a qualquer coisa que boiasse perto dele. Muitas das vezes, esta coisa era, por exemplo, a bola, réplica menor de um mundo redondo, no qual os craques exerciam as suas conquistas e a maior era a sobrevivência própria.
Bons tempos, sem saudosismos, em que uma junta médica russa, certamente, inviabilizaria um Garrincha para a prática do futebol, sem levar em conta que a necessidade do prazer, do lúdico e da sobrevivência seria capaz de contrariar qualquer diagnóstico e transformá-lo em “alegria do povo”. Tenho certeza que fez jogadas monumentais nos vários campos da sua vida, muitas das vezes, apenas para ganhar a dose de cachaça ou aquela cerveja apostada no início da pelada com o time contrário, onde só cabia vencer ou vencer, pois não teria dinheiro para saldar a dívida se o imponderável acontecesse.
Estamos em 2010. Nossa seleção já ultrapassou (burramente) a necessidade da sobrevivência, íntima motivação do homem, mergulhada num consumismo exagerado- carros, jóias, etc. O jogo é contra a simpática Holanda. Nós temos jogadores bons, sem dúvida, mas incapazes de segurar um placar a favor, muito menos reverter um contrário. Ah, Didi, por que você, nascido na Lapa de Campos, rezado e abençoado por todos os orixás à beira do Paraíba, não se incorporou no Kaká? E, com sua sapiência, hoje de preto velho, mas, em 1958, de preto ainda novo, liderando os miscigenados brasileiros e, com a bola debaixo do braço, calmamente, não falou aos colegas: “Somos muito melhores, vamos botá-los na roda e ganhar esse jogo.” E, dirigindo-se, particularmente, ao Felipe Melo: “Joga bola rapaz, dê outros passes daqueles que só o Gerson poderia dado pro Robinho, mas não faça merda.” Incisivo: “Dê a saída, Luis Fabiano, toque pra Robinho, dele pra mim (Kaká incorporado pelo Didi) e eu esticarei na ponta onde alguém, incorporado de Garrincha, tornará lúdica, prazerosa e vitoriosa a nossa pelada.”
Didi, em 1958, promoveu a nossa verdadeira independência, diante dos louros suecos e de um placar adverso e, sem usar palavras bélicas, disse apenas: “Vamos pôr eles na roda.”
Neste momento me cai a ficha. Kaká é evangélico e jamais se permitiria ser incorporado pelo preto velho Didi. Bom, pior para ele e para o Brasil também.
OBS: Durante toda a Copa, eu só vi o Dunga esboçar um sorriso em comerciais na televisão. Será que a CBF estava com o salário atrasado? Saudades também do velho Feola. Ele dormia enquanto a seleção jogava, e bem! Nossos jogadores comiam sem fartura, mas o suficiente para se manterem ágeis e capazes de tourear adversários, invariavelmente, grandes e bem alimentados.

Ass: Brasil "

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