Um sonho de Carnaval


Walnize Carvalho

Mais um Carnaval! Para uns, é tempo de vestir a fantasia e seguir a multidão; para outros, é tempo de calmaria e curtir a solidão.Para os que, como eu, o acompanha à média distância (assistindo aos desfiles na TV, observando algum solitário folião passar pela calçada) bate a curiosidade da história desta festa popular.
Fui buscar fragmentos do texto em forma de poema: “Carnaval de Cinzas” de Waldir Carvalho, no livro: “Contos e Cantos”(1989), para ilustrar meu espaço neste sábado carnavalesco. Nele o autor faz uma viagem imaginária e segue de forma irreverente o itinerário. Aqui está: “Louvo o carnaval! Válvula de escape, do recalque, da frustração, da ânsia.Mas, querendo vê-lo à distância...Fugi.Na falta do deserto, num mundo tão descoberto, fui me ocultar na praia querendo somente ouvir a sereia ou o murmúrio das ondas beijando a areia.Apenas cinzas e meus pensamentos durante o incêndio das horas de tormento...Que esperança! Que desdém! Tantos fugiram também!...Isolei-me na multidão.A brisa veio e a mansidão.Dormi. Pra sonhar o ideal, sonhei com o Carnaval!...Carnaval nascendo no Egito,com Quéops no bombo de primeira executando “Zé Pereira” nas ruas de Tebas...
Assisti na Grécia iluminada a uma competição de batucadas do “Unidos do Olimpo”: Aristóteles de baliza, Ártemis de porta bandeira,Tales, Heráclito, Hipócrates formando o corpo de passistas...
E vivia o imaginário e a história do Carnaval. Seguindo o itinerário fui parar em Roma. Loucura infinda! Ala de frente, um pandemônio: Lucrécia Borgia, Júlio César, Marco Antônio...
Meu delírio continua.Vem a França,Paris, Baile de máscaras...
Portugal não se faz de rogado.É o fado a enfeitar minha doce ilusão.
E quando ia acordar, para fugir daquele ardil, eis que surge o nosso Brasil...Carnaval brasileiro, festa de bamba,da marcha, Marcha rancho.Do samba.Samba do morro,do murro,samba pra burro! Carnaval da pesada, da pelada e da pisada no pé...
E, finalmente na derradeira madrugada pela avenida iluminada um bloco de sujos: Pierrot, Colombina, Arlequim esfarrapados...
Eis que na praia acordei. Nada, nada feliz;ao som que recordei, da marchinha que diz:”Maré tá cheia/ fico na areia/ Porque na areia/ Dá mais peixe que no mar...”
E arremata o autor: “Eis, leitores, se não me engano a verdadeira história do Carnaval”.

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