Amarelinha desbotada, em seis atos: do motorista da Cometa ao 'eu te amo, meu Brasil' - Por José Roberto Malía


Primeiro ato. Surpreendentemente sem o cobiçado óculos de motorista da Cometa dos anos 60, o carismático Zé da Medalha aproveita os holofotes para fazer um apelo à torcida e, principalmente, à mídia independente: é hora de pensar apenas na amarelinha desbotada. Brasil, ame-o ou deixe-o. Nada de eleição no Circo Brasileiro de Futebol.

Segundo ato. ‘Sargento’ Felipão anuncia os 23 soldados da tropa que tentará vencer a batalha da Copa das Confederações pela quarta vez. A amarelinha desbotada ganhou em 1997/05/09. Por uma daquelas incríveis coincidências que só mesmo o especialista em salto alto ‘professor’ Soberba conseguiria explicar, o time levou bucha nas Copas de 1998/06/10. Felipão começa o recrutamento com Júlio César e termina com Neymar. Nada de Ronaldinho Gaúcho. Nem de Kaká. E, do quarteto mágico do Galo, apenas Bernard.

Terceiro ato. Diante do olhar estupefato da plateia com a ausência de alguns nomes, ‘sargento’ Felipão comunica que convocou de acordo com suas convicções, com a certeza de que está no caminho certo. A partir de agora, todos (atletas, comissão técnica, torcida e mídia) devem trabalhar ‘pelo país, pela seleção’, independentemente de clube. Corneteiro de plantão: mais um ‘Brasil, ame-o ou deixe-o‘.

Quarto ato. Senhor da razão, ‘sargento’ Felipão aproveita para informar que não iria falar nada sobre quem não estava na lista. As especulações, então, tomam conta da plateia: festas de arromba em sua mansão, depois dos jogos, e atraso de 25 minutos na apresentação para o amistoso com o Chile riscaram Ronaldinho Gaúcho dos planos. Já o ótimo volante Ramires foi preterido porque comunicou, antes do jogo com a Rússia, que estava machucado e foi embora do hotel. Lucas, também lesionado, ficou concentrado. Picuinha idiota.

Quinto ato. Irritado com as perguntas que deixavam de lado o oba-oba para o Brasil, ame-o ou deixe-o, Felipão diz estar preparado para suportar a pressão se não der certo: ‘Mesmo que eu leve aquele que o jornal deseja, o pau vai comer. Então, o que adianta agradar A, B ou C e ter dor de barriga? Se der errado, vocês fazem o que acham que deve fazer’. Um show de humildade autoritária.

Sexto ato. Fecham-se as cortinas e acaba mais um estapafúrdio espetáculo das chuteiras furadas, ao fantástico som de ‘eu te amo, meu Brasil, eu te amo/Meu coração é verde, amarelo, branco, azul-anil/Eu te amo, meu Brasil, eu te amo/
Ninguém segura a bola no Brasil’.
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José Roberto Malía é jornalista da ESPN Brasil.

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