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Por que a gente comemora o ano-novo? Os rituais de ano-novo funcionam?
Verônica Mambrini
iG São Paulo

Fogos de artificio, lentilha na ceia, champanhe, flores no mar, pule com o pé direito, coma lentilhas, suba escadas, acenda as luzes, aumente o som, grite bem alto “feliz ano-novo!” São muitos os rituais para a passagem de ano. Mas por que a gente repete esses gestos todos os anos? E, mais ainda, eles de fato servem para alguma coisa?
Estudiosos acham que sim, os rituais são importantes e têm sua função. Eles carregam o poder simbólico de abrir e fechar os ciclos e esse poder é enorme.
A cada ciclo que termina, as pessoas sentem necessidade de fazer um balanço de pontos positivos e negativos”, diz a psicóloga Jaqueline Meireles.
E isso vale tanto para as crises, problemas e dificuldades do ciclo que termina quanto para os projetos e sonhos que ficaram estagnados e precisam ser atualizados para o novo tempo que começa.
Mas por que todo mundo precisa fazer o balanço ao mesmo tempo, numa data convencionada?
“Por causa da força simbólica. O mundo todo se mobiliza em função disso”, afirma a psicóloga. Esse gigantesco “mutirão de boas intenções” que se cria nesses momentos pode ser um belo empurrãozinho para incentivar o exame de consciência e abraçar o ano vindouro.
A passagem do tempo e os ciclos da Natureza impressionaram mesmo nossos mais antigos ancestrais. E os rituais de passagem têm servido desde sempre para pontuar esse ritmo repetitivo que os homens observavam em tudo à sua volta.
"Rituais geram bem estar. A marcação do tempo existe desde os primórdios da humanidade porque dá aos homens uma sensação de controle sobre o próprio destino”, afirma.
A analista acrescenta também um outro ingrediente fundamental para o bem estar psíquico do ser humano: a necessidade de esperança.
“O ano novo traz consigo a possibilidade de reorganizar a vida, consertar erros, fazer coisas diferentes, essa promessa do ‘novo’ é fundamental para o bem-estar e para a saúde mental.”
Em francês, a palavra ‘réveillon’ remete a vigília, ao ato de estar acordado.
“Se você vai receber o novo, tem que estar acordado para recebê-lo quando chegar. Assim como precisa estar acordado para 'se livrar' do ano-velho”. “É a chance de fazer um desejo, um voto.” E para ajudar a espantar o mal e atrair o bem, fogos de artifício!

O que se come também é extremamente importante: as comidas que atraem boa-sorte no ano-novo representam fartura e prosperidade.
“O elemento simbólico que aparece sempre forma associações na nossa mente. Não comer aves que ciscam para trás é uma analogia que remete à ideia de não regredir na vida, assim como a lentilha, verde, remete a moedas, a dinheiro”. Outro clássico é a romã, associada há séculos à fertilidade e à prosperidade, provavelmente em função das centenas de sementes rubras que compõe a polpa da fruta.
“No fundo, o importante é o desejo de atrair bons votos para o ano que está chegando. “As adaptações são inúmeras, mas todas as culturas celebram essa passagem de um ano para outro, de um ciclo para outro e todas inventam suas formas próprias de desejar a todos um bom novo”.

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