Hoje é dia de mala, bebê!

 Coluna de hoje do jornalista Artur Xexéo, em "O Globo":

Chegou o grande dia. Depois de quase dois meses de uma incansável apuração, o resultado da eleição mais democrática do país está pronto. A Mala do Ano foi escolhida por brasileiros de todo o planeta. Aquela figura que durante o ano se destacou entre todas que perturbaram, incomodaram, foram inconvenientes, praticaram a autopromoção, pisaram na bola e, enfim, encheram o saco da população já tem nome e sobrenome. E um lugar de destaque no Hall da Fama das Malas.

Não é por acaso que, após eleita uma vez, a mala do ano torna-se hors-concours. O eleitorado tem uma tendência forte a votar em políticos. De preferência em presidentes da República. Assim, se a mala do ano não se tornasse inelegível, teríamos passado os últimos anos escolhendo Lula (ainda há quem vote nele; voto anulado, é claro) e os próximos, entronando Dilma. Mas, por decisão do TREM (como todo mundo sabe, com a eliminação do TREMA pela nova reforma ortográfica, o Tribunal Regional Eleitoral das Malas mudou de sigla), uma vez mala, sempre mala. Nem precisa votar mais. Assim, na impossibilidade de cravar o nome do presidente da ocasião, o eleitorado costuma procurar outros políticos para oferecer a homenagem.

Por isso, pensei que Carlos Lupi, o ex-ministro cheio de banca, que agonizou em praça pública, fosse tirar de letra a eleição de 2011. Quando os votos começaram a chegar às urnas, as denúncias contra ele estavam todos os dias nos jornais. E ele, por algum tempo, chegou mesmo a liderar a contagem de votos. Lupi, que prometeu só deixar o Ministério do Trabalho se fosse “abatido a balas”, tornou-se uma mala furada. Mas aconteceu um fenômeno interessante. Muito votado pelos eleitores que enviaram sua escolha por e-mail, Lupi quase não foi lembrado pelos que preferiram votar pelo blog do colunista. Resumo da ópera: quase chegou lá, mas só deu para um humilde quarto lugar. Fica pra próxima, Lupi.

Carlos Lupi foi ultrapassado na contagem de votos pelo governador Sergio Cabral (terceiro lugar), muito lembrado pelo episódio em que verteu lágrimas quando viu que o Rio estava ameaçado de perder os royalties do petróleo. Uma mala molhada, portanto. E por Rafinha Bastos, o ex-comediante do “CQC” que envolveu-se num episódio em que destratou a cantora Wanessa Camargo e seu filho ainda não nascido. Rafinha pegou a vice-liderança como a mala de mais mau gosto do ano. Mas Wanessa não saiu ilesa da confusão. Ficou em quinto lugar. Em outras palavras, o eleitorado se dividiu entre duas malas. Wanessa é uma mala resistente. Há anos, ela ameaça subir ao pódio. Já Rafinha está estreando na competição. Desde o polêmico episódio, porém, desapareceu. Tornou-se uma mala extraviada.

Mas chega de lero-lero. Ditam as regras do bom jornalismo que a notícia deve começar pelo lead. E mala está sendo este colunista que já escreveu 80 centímetros e ainda não disse o que interessa: o vencedor deste ano. Pois a mala de 2011 precisa de fundo musical. “É a maaaaala! Que mexe com a minha cabeça e me deixa assim....” Isso mesmo: é uma mala sertaneja — Zezé di Camargo e Luciano. Mala dupla. Mala de viagem e frasqueira (a frasqueira é a segunda voz), o que torna o conjunto mais pesado.

Outra mala sertaneja, mas com característica universitária, ficou em nono lugar, Luan Santana. É sempre bom lembrar que Luan tem uma música de sucesso chamada “As lembranças vão na mala”. Estava pedindo, né?. Mas olha o colunista tergiversando outra vez. Voltemos ao principal.

Zezé di Camargo e Luciano foram lembrados pela extinção da dupla. Quer dizer, a dupla foi extinta numa noite e reagrupada na manhã seguinte. Com direito a aparição em todos, mas todos mesmo, programas de TV para explicar que os irmãos se amam, que misturar Rivotril com uísque não é uma boa... Eu não vi, mas garanto que eles foram se explicar até naqueles programas de leilão de joias da CNT. O eleitorado nunca perdoou superexposição. São duas malas de Francisco!

 
Para quem está interessado em saber como ficou a lista dos dez mais, aqui estão os outros classificados. Neymar ficou em sexto lugar. Há vários motivos para justificar a escolha do craque do Santos, mas a mais lembrada foi o penteado exótico do atacante. É um novo tipo de mala: a mala-calopsita.

O sétimo lugar ficou com Claudia Leite. Cantoras de axé sempre tiveram um lugar de destaque na nossa eleição. Mas, geralmente, a mais lebrada era Ivete Sangalo. Desta vez, Claudia disparou na frente. Tenho certeza de que Ivete vai dar um jeito de, no próximo ano, voltar a ficar à frente da rival.

Drauzio Varella pegou o oitavo lugar. É a mala clínica, aquela que contém estetoscópio e termômetro. E, para encerrar, o décimo lugar é do ministro da Educação, Fernando Haddad. É justo. O cara pisou numa bola atrás da outra durante a realização do Enem e achou que iria ficar impune? É, mala e não se fala mais nisso. O TREM já está se organizando para a eleição do ano que vem.

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