O sol, o vento e a folhagem


Walnize Carvalho

Tenho por hábito acordar cedo. Como a obedecer a um ritual abrir janelas, saudar o dia e ser saudada pelo bem te vi, que mora no poste da calçada em frente à minha casa.
Vez por outra, abro exceção indo adormecer mais tarde, pois me deixo levar pela leitura de um livro embalada pela brisa noturna.
Noite de lua cheia, então (?!) é um convite para vê-la nascer imperiosa na linha do horizonte e no seu posto reinar entre estrelas até o dia seguinte.
E num dia seguinte( dia de domingo) a este encontro prazeroso entre eu e o telão celestial que me vi entregue ao sono deixando o relógio biológico descompassado.
Foi quando , tal qual crianças que adoram “pregar peça” (dar sustos) os três apareceram: O sol, o vento e a folhagem.
Pela janela fechada do quarto, através das esquadrias de madeira surgiram sombras , que formavam desenhos.Em plena cumplicidade, o vento empurrava a folhagem e o sol brincava de “pique esconde” vindo refletir sobre minhas pálpebras semi cerradas.
No silêncio reinante ( afinal passava pouco das oito e a maioria dos familiares ainda dormia) fiquei como telespectadora única e de primeira fila.
Acabei por abrir os olhos e, já acordada, pensei na forma inusitada de despertar.Um despertar silencioso bem diferente do que acontece na correria do dia a dia onde se obedece ao toque de um despertador; a um chamamento; ao choro de uma criança ou ao som estridente do rádio da casa do vizinho...E tome correria, chuveirada rápida, goles de café sorvidos em pé na cozinha e saídas apressadas, onde a maioria acaba de se arrumar pelo caminho: são homens que abotoam suas camisas; mulheres que retocam batom no retrovisor do carro e crianças mastigando o lanche matinal ao mesmo tempo que amarram os cadarços dos tênis escolares.
Mas, há os não tão ( ou até) madrugadores como eu, que acordam naturalmente na hora desejada.Calmos e revigorados sentam-se à mesa, saboreiam a primeira refeição do dia, ouvem, assistem ou lêem o noticiário já saindo de casa bem informados.
De tudo, o que é imprescindível é acordar apaziguado e agradecido por mais um dia.
De minha parte, faço este exercício diário e quando em vez me pego lembrando daquele despertar inesquecível: o sol,o vento e a folhagem fazendo travessuras em minha janela.

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