Implicâncias e traquinagens



Walnize Carvalho

Era motivo de esconder dos pais ou até revelar para eles, as brincadeiras ocorridas no pátio da escola. Na primeira hipótese, pelo constrangimento de vê-los irem ao colégio a fim de “apurar os fatos”, pois estávamos fadados a sermos chamados de “filhinhos da mamãe”; na segunda, pela certeza de que (a partir da tal visita) a meninada nos trataria com mais “respeito” ainda que dissesse: - Esta não sabe brincar!...
O certo é que as puxadas nas tranças de nossos cabelos; o colar chicletes nos couros cabeludos dos meninos; os pés colocados à nossa frente, atrapalhando a passagem; os apelidos dados eram motivos para nos sentirmos humilhados e ofendidos.
Falei em apelido e me lembrei do que era dado a um primo, que estudava nos idos do primário, na mesma sala de aula que eu: polaco, pela sua semelhança física com poloneses. Tudo começou quando a professora teria falado sobre a Polônia e seus descendentes. A partir dessa aula, o menino de pele clara e rosada, passou a ser assim chamado pelos colegas, o que o tornava irritado e brigão. Daí, sobrava para ele, ficar de castigo na área externa da sala. Para matar o tempo, escrevia seu verdadeiro nome nos pés de cactos...
Mais tarde, ouvi relatos dos meus filhos, que ao tempo do ginásio, encaravam: “corredor polonês ” (passagem entre meninos perfilados, que davam cascudos e bicos); “garrafão” ( desenho de uma garrafa no chão feita de giz) em que teriam que entrar pulando em um só pé ,desde o gargalo até o final, caso contrário receberiam igual arbitrariedade...
O resultado de tudo isso é que ninguém quebrava osso nem dente; ninguém morria nem ficava aleijado. Eram empurrões, socos, arranhões, tapas, chutes, petelecos, beliscões que não deixaram hematomas na alma, pois vira e mexe são lembrados com ares de risos e até certo ponto com saudosismo. Não havia vilão nem mocinho; santo nem demônio; herói nem bandido; vencedor nem vencido. Do portão da escola a caminho de casa ,as bravatas eram esquecidas e o que se via, eram crianças felizes e descontraídas...
Agora a “brincadeira” virou coisa séria: caso de estudo, de análise e até de polícia... Atualmente, convencionou-se chamá-la de bullyng : termo utilizado para descrever atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados por uma pessoa ou um grupo delas com o objetivo de intimidar ou agredir outro indivíduo ou um grupo deles incapazes de se defender...
Em tempos outros, tudo não passava de implicâncias e traquinagens, sem a presença sistemática e persecutória a que “as brincadeiras”de hoje se transformaram.

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