Morre o cantor Alvinho


Amigos,
com muita tristeza comunico o falecimento do nosso querido Alvinho, cantor do Conjunto Regional Carinhoso. Escrevi o texto que segue, como última homenagem a este grande guerreiro. Em anexo, uma foto tirada no sesc de Grussaí.
Abraços a todos.
Fiquem com Deus!


Oh, tristeza, me desculpe...

O dia amanheceu espetacular. Do terraço, o cenário bordado de luz lembrava uma enorme tela pintada com maestria pelo nosso Artista Maior. Mas havia um canto triste em meio à algazarra dos passarinhos. Na luminosa manhã desta sexta-feira de primavera partiu nosso querido Alvinho, o canto mais belo de nossa planície, um canto de dar inveja ao mais “afinado” dos passarinhos.
Lembro-me da última vez que estivemos juntos, em apresentação do Conjunto Regional Carinhoso, no Sesc Mineiro de Grussaí. Com a saúde já debilitada devido a um grave problema renal, ele não hesitou em enfrentar os degraus (muitos!) até chegar ao local da apresentação. Amparado pelos amigos e com um bom humor que só os fortes possuem numa hora dessas, chegou ofegante ao salão, mas chegou, impulsionado pelo amor que sempre teve pela música.
Naquela noite, passei preciosos minutos ao seu lado. Os últimos preciosos minutos. Alvinho era de uma sabedoria ímpar. Sabia do que estava falando. E como sabia! Falamos sobre música e músicos, cultura brasileira, mitologia grega, comportamento e outros temas, tudo isso antes que o conjunto entrasse em cena. Um grande mestre é o que ele era. Em pouco tempo tive uma aula de história e fiquei sabendo tudo sobre a cidade de palha, ou o bairro Custodópolis, no qual sempre falava.
No palco, Alvinho cantou lindamente e arriscou os famosos passinhos de samba (mesmo sob o olhar preocupado dos familiares). Foi uma de suas últimas apresentações. “Se eu morrer no palco, morro feliz”, disse antes de nos brindar com Viagem, de Paulo César Pinheiro, de quem era grande fã. “Oh, tristeza me desculpe, Estou de malas prontas. Hoje a poesia veio ao meu encontro, já raiou o dia, vamos viajar...”
Viajaste cedo, amigo, na garupa leve da poesia. Rogo a Nosso Senhor Jesus Cristo que lhe permita visitar as estrelas, sentar-se nas nuvens claras, colher avencas
lírios, rosas, dálias, pelos campos verdes de jardins do céu, como diz a canção. Faz um favor: quando encontrar lá, pelos tais jardins, os outros carinhosos que embarcaram antes nesta grande viagem, manda pra nós um choro bem bonito pra amenizar o choro dos que aqui ficaram, os que agora têm somente saudade no repertório. Por enquanto vamos entoando uma canção triste como noite sem lua. Como luminosas manhãs sem a doce algazarra dos passarinhos. Vá em paz, amigo!

Patrícia Bueno
Jornalista

Comentários

Claudio Kezen disse…
Grande perda para a música campista. Esse ano, perdemos o Luiz e agora o Alvinho. Triste...
walnize carvalho disse…
É mesmo Cláudio...
E que homenagem bonita da jornalista Patrícia Bueno nesta postagem que fiz,não é?
Claudio Kezen disse…
Muito bonita. Bjs, Walnize.

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