A um ausente- Drummond



Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.

Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu,
enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso,
voz modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.


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Para meu irmão Léo Peixoto, que há 8 anos fez a sacanagem de ir embora antes da hora.


Comentários

Jane Nunes disse…
Doi... É como se fosse agora, me lembro da despedida...
...Não implique com sua irmã quando chegar no céu meu filho... disse, por que?
Me pergunto sempre, por que? Apenas pela relação da amizade? Mas e a sensação terrível de me arracarem um pedaço? Duas vezes a mesma cena , a mesma dor... Por que?
Karina Alves disse…
que foto linda dele com os filhos .... lindo.... amo vcs
Auci disse…
Ô saudade!

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