Refúgio-Walnize Carvalho
Refúgio
Walnize Carvalho
Faltando poucos dias para o Natal, a mulher amanhecera com uma idéia fixa: sairia à rua em busca de uma compra inusitada. Supérflua, talvez, ao julgamento de alguns, mas para ela seria de grande valia.
Arrumou-se e foi à procura do objeto almejado.
Seguiu ruas. Dobrou esquinas. Atravessou o circuito convencional dos sorrisos dos transeuntes (tão comum nesta época do ano).
Começou por uma loja de produtos carnavalescos. Mas ... não era Natal? E, além do mais, ainda tão longe das festas de Momo, por certo o produto ainda não estaria exposto na vitrina.
Prosseguiu decidida. Entrou em um estabelecimento que vendia artigos de festas infantis. Procurou pelos cantos sem nem mesmo dar ouvidos ao que a atendente, de forma
estudada e gentil, repetia: - Se precisar de ajuda, meu nome é Natalina. É só me chamar ...
Mas, nada. Encontrou “rostos” de fadas, de princesas, de heróis, de monstros e de palhaços ...
Na verdade, naquela manhã a mulher foi em busca de uma peça que resguardasse seu próprio rosto; de um objeto que representasse uma cara de contentamento; de uma face que estampasse um sorriso de felicidade; de um olhar que revelasse um vazado de luz bondosa; de um semblante que cobrisse a tristeza do cotidiano (o mundo tão sem paz); de uma fisionomia que protegesse a descrença (o mundo tão sem amor).
De uma MÁSCARA que disfarçasse a lágrima pertinaz e fugidia (o mundo cercado de hipocrisia).
Desencantada por não ter adquirido a compra desejada, a mulher volta para casa .
Seu quarto foi o refugio encontrado para esconder de si mesma...
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Carlos José de Oliveira