Na Vitrine


Esta semana: Adriana Falcão

Paixão

"Graças a Deus eu não penso mais no Jorge. Inclusive, eu já acordo pensando: não vou pensar nele hoje. Ahn...não vou pensar nele hoje? Não, não, eu NÃO vou pensar nele hoje! Mas eu não vou mesmo! Cala a boca, Jorge, cala a boca, eu não penso mais em você! Cala a boca! Eu não disse que eu não penso mais no Jorge? Nem penso mais no Jorge. Nem no que ele me fez...nem na falta que ele me faz...Ai, vou telefonar pra ele! Telefonar pra ele então...nem pensar. Se por acaso vier à minha cabeça a palavra assim: “telefone”, eu imediatamente começo a pensar em outra coisa. Telefone, Graham Bell (o cara que inventou o telefone, não é?) Graham Bell- Jingle Bell, Jingle Bell- Natal, natal a blusa que o Jorge me deu no ano passado...sai, sai, sai!Esse ano eu não vou pensar no Jorge um único dia. Minha cabeça vai estar ocupada com coisas muito mais importantes: o que é que eu vou fazer da minha vida sem o Jorge, por exemplo. O que eu vou fazer da minha vida sem o Jorge, por exemplo.... O que eu quiser, ora! Como por exemplo, me matar! Por que eu não vivo sem o Jorge? Olha lá! Olha lá, todo mundo vivendo sem o Jorge! Todo mundo vive sem o Jorge, menos eu. Ah, lá, o porteiro vive sem o Jorge. Ah, lá, a mulher da farmácia vive sem o Jorge. A mulher da banca de revista também...
Até Cleópatra vivia sem o Jorge. Ah! Exatamente agora, por exemplo. Tem gente nascendo, tem gente sofrendo, namorando, comendo, malhando. Tem gente não fazendo nada.Tem gente lá, tentando descobrir a cura do câncer. Tem gente comendo, nascendo, namorando, malhando. Tem gente que jamais ouviu falar no Jorge...e vive! Normalmente!...eu sou a única pessoa viva ou morta que não consegue viver sem o Jorge! Uma anomalia, uma aberração científica!Eu sou portadora de uma raríssima dependência patológica denominada Jorge!Um caso tão raro que só existe um em toda a humanidade! Eu, a idiota, aqui! Se está estatisticamente comprovado que se pode viver sem o Jorge, é exatamente isso que eu vou fazer. Viver! Sem ele.Vou sair por aí...vou paquerar, dançar, me divertir um pouco.Vou ser uma pessoa feliz, afinal...quem sabe eu não encontro o Jorge por aí?

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Alzira Vargas: O parque do abandono

Carta de despedida de Leila Lopes